John Maynard Keynes irrompeu na filosofia política no limiar do século 20. E ganhou notoriedade ao final da II Guerra Mundial, em 1945, sobre as ruínas materiais e sociais que engoliam o continente europeu na fome e desemprego. O liberalismo do laisser faire reduzia-se impotente e frágil diante do desafio catastrófico de reerguer a economia. Nesse cenário, apontou Keynes propugnando ao Estado, aos governos o papel de conduzir a economia, naquilo que o empreendedorismo individual mostrava-se incapaz de cumpri-lo. Tese que Franklin Roosevelt levou à prática nos EUA de 1939 a 1945. Funcionou. Guardando as devidas proporções, nossa Olimpíada pautou-se por um keynesianismo sem fundos. Governos federal, estadual e municipal inadimplentes investiram maciçamente na festa esportiva mundial na esperança de que sobrasse algum proveito à cidade. Dos delírios demagógicos, restaram as contas milionárias. E mais, a imposição inarredável de conservar o capital imobilizado ou abandoná-lo à ruína. Compromisso assumido por um Estado incapaz de pagar os salários do funcionalismo. O governo olímpico do Rio, no auge da crise hospitalar, foi socorrido por R$ 3 bilhões do governo deficitário federal, cujo orçamento grava R$ 170 bi negativos em 2016. O economista Angus Deaton, Prêmio Nobel de 2015, destacou-se nos estudos da microeconomia – a demanda e opção do comprador, o trivial comportamento popular exibido na feira diária. Pode servir à vista da Olimpíada. Afirma Deaton: aumentar apenas a renda dos mais pobres não reduz a pobreza se não for acompanhada do acesso a saúde e educação; mais importante que estimular o consumo é estimular a poupança para reduzir a pobreza. Deaton condenou a doação monetária e outras formas de assistencialismo aos governos africanos no combate à pobreza. O crescimento econômico é que reduz a pobreza; não as doações. Deste confronto imaginário, ergue-se desafiadora a apolínea questão: pode um país endividado ao horizonte imprevisível, numa capital em guerra cercada de favelas, bancar uma Olimpíada?
Outra visão
Luiz Carlos da Cunha: Olimpíada - De Keynes a Deaton
Arquiteto e urbanista