Na última meia dúzia de anos, venho observando atentamente a trajetória de empreendedores mal-sucedidos na tarefa de gerar novos modelos de negócio inovadores. Há dois fenômenos recorrentes que destroem, todos os anos, centenas de inovações promissoras no Brasil. Esses vícios se repetem em diferentes contextos, como incubadoras tecnológicas, aceleradoras e mesmo dentro de empresas que geram iniciativas internas de empreendedorismo.
O primeiro é o que chamo de ideiocentrismo. É quando o empreendedor é tão apaixonado por sua ideia que reluta em compartilhá-la. Acaba não recebendo feedback relevante em torno de suas hipóteses que, normalmente, são ingênuas. É preciso, antes de tudo, tomar consciência de que se você acredita ter uma ideia genial, é praticamente certo que outras pessoas ao redor do mundo tenham a mesma ideia, ou então que ela não tenha nenhum fundamento mercadológico.
As grandes inovações surgem justamente em ondas de empreendedores espalhados pelo mundo tentando construir mais ou menos a mesma coisa. A diferença estará na qualidade da execução e da velocidade da aprendizagem a respeito das incertezas contidas naquele determinado modelo de negócio. Na verdade, o primeiro passo deve ser decompor sua ideia em hipóteses claras e entender que experimentos rápidos e baratos você pode fazer para descobrir se suas premissas são verdadeiras.
O segundo vício é o chamado produtocentrismo. Trata-se de um foco excessivo no produto e na tecnologia, por parte dos empreendedores. Normalmente, esse fenômeno está associado a ciclos demasiadamente longos de desenvolvimento. Sempre insatisfeitos com aquilo que construíram, despendem quantidades absurdas de energia em conceber e melhorar seu produto, sem antes construir relações valiosas com entusiastas ou clientes. Frequentemente, precisamos lembrar que a tarefa principal das equipes de fundadores, após ter hipóteses claras, é construir relações que o permitirão testá-las. Nesse estágio, somos muito mais mobilizadores de pessoas do que qualquer outra coisa.
Ambos os vícios resultam em um isolamento dos empreendedores, que costuma ser ainda mais drástico em culturas que valorizam a maestria técnica e uma suposta genialidade. São anos inteiros de pessoas altamente promissoras jogados fora por conta de atitudes que, aliás, seriam evitáveis se tivéssemos formação empreendedora consistente.