Nossas instituições são frágeis, complicadas, sensíveis aos atropelos dos políticos, dependentes dos grupos empresariais e vulneráveis às corporações, para dizer pouca coisa. Fosse alinhar todas as mazelas, não escreveria sobre mais nada. Refiro-me ao episódio iniciado na última quinta-feira, 25 de agosto, e que nesta segunda terá seu último ato. O impeachment de Dilma é apenas mais uma tempestade sobre nossas instituições. Nossa democracia, com intervalos maiores ou não, vive aos solavancos, em constante sobressalto. Vejamos apenas o caso da instituição Presidência da República.
O Marechal Deodoro, nosso primeiro presidente, renunciou e passou o comando a Floriano Peixoto, o primeiro vice a terminar o mandato do titular. Começamos bem, como se vê. Tivemos três presidentes que não governaram: Rodrigues Alves, Júlio Prestes e Tancredo Neves. Alves e Tancredo morreram antes das posses. Prestes foi impedido por Getúlio Vargas, que amarrou o cavalo no obelisco no Rio de Janeiro e assumiu para governar 15 anos até a redemocratização. Voltou ao Catete nos braços do povo, mas abreviou seu mandato pelo suicídio.
Em 1961, também em 25 de agosto, Jânio Quadros renunciou, foi difícil que o vice João Goulart assumisse, o que só ocorreu após o movimento conhecido como Legalidade, mas com o abrandamento de um parlamentarismo votado às pressas. E Jango também foi apeado do poder, pelo golpe militar de março de 1964. Um dos presidentes do período, Artur da Costa e Silva, doente, deu lugar a uma Junta Governativa Provisória, formada pelos ministros militares.
Depois, finalmente, eleições diretas e a comemoração de um tempo democrático. Esbarramos no impeachment de Fernando Collor.
Agora, mais uma vez, o julgamento de quem estava na Presidência, sob acusação de crime de responsabilidade.
Não conheço países do tamanho do nosso, que tenham enfrentado tanto transtorno político-institucional. E fico na torcida para ver a bonança logo ali, vencida mais uma tempestade. Que a gente consiga sair melhor da borrasca de agora. Que venham enfim as reformas indispensáveis à plenitude democrática. Sou defensor da ideia de menos partidos políticos, com programas e estatutos mais claros e solidamente defendidos, terminando-se com o modelo das coligações estranhas e contraditórias, ditadas pelas exigências de uma governabilidade que, na verdade, tem o único objetivo da conquista e perpetuação do poder.
A instabilidade que experimentamos foi longa. Agora, mais uma tempestade, que não deixará sequelas irreversíveis. Espero.