Por Valesca Karsten, educadora, proprietária da Escola de Educação Infantil Caracol e idealizadora do podcast PodeMãe
Eu costumo viajar entre o Natal e o Ano-Novo, mas este ano foi diferente. Inspirada por Mario Quintana, decidi levar a minha alma para passear aqui mesmo, em Porto Alegre.
Dia desses, num café com uma amiga, ela disse: “Nós não podemos ficar paradas depois de tudo que caminhamos na vida”. Motivada por suas palavras, resolvi caminhar pela orla do Guaíba.
Moro na Zona Norte, e sempre que vou à Zona Sul, sinto que estou em outro lugar. Depois das enchentes, esse lugar ganhou mais significado para mim.
Ali, às margens do Guaíba, mesmo com algumas barreiras linguísticas, o olhar e o desejo de trocar algo daquele encontro prevaleceram
Enquanto andava, vi quatro garis recolhendo o lixo das margens do rio. Não resisti e me aproximei. Apresentei-me como educadora e logo começamos a conversar. Luís perguntou se eu falava francês. Logo entendi: Florência, venezuelana; Suzanne, haitiana; e Orlando formavam a equipe. Orlando explicou que Suzanne ainda precisava de ajuda para se comunicar e falava francês.
Olhar para Suzanne me fez lembrar de Eliane, uma haitiana que trabalhou na minha escola. Ela alfabetizou-se conosco e nos alfabetizou com suas histórias de vida.
Ali, às margens do Guaíba, mesmo com algumas barreiras linguísticas, o olhar e o desejo de trocar algo daquele encontro prevaleceram. Perguntei se vinha muito lixo do rio. Luís e Orlando responderam juntos: “Parece que quanto mais a gente junta, mais lixo vem. Nosso trabalho é recolher o lixo de quem não coloca as coisas no lixo.”
Entre os resíduos recolhidos, avistei uma carteira de identidade molhada e meias infantis. Quanta coisa esse rio tem trazido…
Seguindo pela orla, admirei o Asilo Padre Cacique e, mais adiante, escutei dois amigos conversando: “Meu, nessa vida a gente tem que ser pontes, não muros”.
Terminei minha caminhada diante do Monumento aos Voluntários Anônimos, de Siron Franco, uma obra que para mim traduz a expressão: “Tamo juntos!”
Feliz Ano Novo a esses anjos vestidos de gente. Sem eles, viver seria impossível.