Na antevéspera de mais um processo eleitoral no país e às vésperas da decisão sobre o processo de impeachment, é promissor para os brasileiros o balanço do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, feito em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, sobre os rumos da Operação Lava-Jato e o combate à corrupção no país. Ainda que considere utópico acabar com os desvios de dinheiro público, o procurador-geral defende como viável derrotar a corrupção endêmica, pondo fim a uma forma hoje considerada natural de fazer política e negócios no país.
Esse horizonte só se mostra mais factível porque, na avaliação do entrevistado, a investigação conjunta do Ministério Público e da Polícia Federal, com o respaldo do Judiciário, escancarou "um modo degenerado de fazer política no país e a simbiose deletéria que se estabeleceu entre certos setores do empresariado e agentes públicos para ganhos espúrios e para a perpetuação no poder". Eis aí um resumo perfeito do processo que levou o Brasil à situação em que se encontra. O país tem hoje uma presidente na iminência de sofrer impeachment, seu substituto e alguns de seus ministros suspeitos de terem se beneficiado do esquema ilegal, assim como dezenas de outras lideranças políticas investigadas por recebimento de recursos oriundos de propina para suas campanhas eleitorais.
A extensão do número de investigados por corrupção preocupa, por reforçar a perspectiva de a crise política persistir mesmo depois da definição do impeachment. Como ressalta o procurador-geral, a saída é o país aproveitar o estágio atual do combate à corrupção para transformá-lo em padrão, pondo fim à impunidade, além de enfrentar de vez uma reforma capaz de moralizar a política.