O que mais assusta neste período que antecede as eleições presidenciais norte-americanas, já com os candidatos dos dois principais partidos definidos, não é apenas o fato de Donald Trump – populista, xenófobo, intolerante e belicoso – ser o representante do Partido Republicano. O que deixa o mundo democrático sobressaltado é a constatação de que o polêmico empresário nova-iorquino está empatado com a democrata Hillary Clinton nas pesquisas de intenção de voto, o que lhe dá possibilidades reais de assumir a presidência da nação mais poderosa do planeta.
Trump rejeita as minorias e os estrangeiros. Já manifestou publicamente preconceito contra mexicanos e muçulmanos. Seu propósito de "colocar a América em primeiro", um apelo primário ao sentimento nacionalista da população, desconsidera o multilateralismo e a globalização. Populismos de esquerda ou de direita nunca trouxeram bom resultado para as nações que os adotaram e muito menos para a comunidade internacional que acredita na paz e no desenvolvimento como caminhos mais adequados para a humanidade.
Evidentemente, caberá ao povo norte-americano decidir soberanamente por quem deseja ser governado – e qualquer decisão democrática tem que ser respeitada. Mas não há como ignorar alertas de organizações como a Economist Intelligence Unit (EUI), serviço do semanário britânico The Economist, que considera uma eleição de Trump equiparável em consequências econômicas à ascensão do jihadismo no mundo. Seu antagonismo com a China e sua intenção de proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos tenderiam a estimular o recrutamento de grupos extremistas, assegura a análise. Sua aversão ao livre-comércio também é vista como fator negativo para a economia globalizada. China, Japão, Índia e – o que nos interessa diretamente – Brasil têm sido citados pelo candidato como países que roubam empregos dos Estados Unidos.
Trump, portanto, não é um perigo apenas para os Estados Unidos e para os países que mantêm boas relações com os norte-americanos. É uma ameaça para a própria democracia.