O incêndio que causou a morte de sete internos de um centro de reabilitação de dependentes químicos em Arroio dos Ratos e o desabamento de uma marquise sobre duas pessoas em Porto Alegre, matando uma delas no local, fazem parte do mesmo quadro de negligência e descaso com a vida humana do triste episódio da boate Kiss, em Santa Maria. Os brasileiros precisam desenvolver uma cultura de prevenção, que inclua responsabilidade por parte dos cidadãos e o exercício efetivo de fiscalização permanente pelas autoridades. Não há acaso nessas tragédias. Há, isto sim, desleixo, incúria, jeitinho demais e comprometimento de menos.
Tanto o incêndio na casa de tratamento quanto o desabamento da marquise só chamam a atenção por terem provocado vítimas humanas. Mas há muitos casos de negligência que sequer são noticiados. No vácuo deixado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e diante da impossibilidade de instituições abnegadas atenderem a toda a demanda, disseminam-se pelo Estado verdadeiros depósitos de pessoas encaminhadas para tratamento. Muitas vezes, esses locais sequer contam com um profissional da área médica.
A situação não difere muito no que diz respeito à falta de cuidado na realização de obras físicas em prédios. E, o que é mais grave, não há essa preocupação mesmo quando são realizadas em locais de grande fluxo de pessoas, como é o caso do centro da Capital.
Obviamente, nem todas as responsabilidades recaem sobre os governantes. O foco na prevenção e o respeito à vida têm que preocupar a todos, sempre. Ainda assim, nessas situações, fica evidente o quanto o setor público, em todas as instâncias da federação, segue eficiente para arrochar os cidadãos sem retribuí-los com a devida contrapartidas, como o rigor na fiscalização para coibir atitudes relapsas e evitar tragédias.