Clarice Lispector sempre me pareceu a maior entre os maiores. Maria Bethânia e Fernanda Montenegro, também. Nunca me ocorreria pensar que são as melhores em suas áreas porque são “mulheres”. A excelência, pessoal ou profissional, de uma pessoa não está relacionada ao seu gênero. Clarice não é grandiosa porque é mulher. É a melhor porque soube escrever como ninguém.
Reconheço que há conquistas femininas fundamentais a serem implementadas com urgência. E que há um monte de homens machistas e preconceituosos. Na política, inclusive. Às vésperas de mais uma eleição, com tantos apelos para que mulheres participem da vida partidária do país, me peguei pensando no assunto. Hillary Clinton tem 45% das intenções de voto nos Estados Unidos. Luciana Genro disparou em Porto Alegre. Beth Colombo lidera em Canoas. Votaria em qualquer uma delas, independentemente de seus partidos – mas nunca porque são "mulheres". Votaria porque são muito boas no que fazem. Se um dia Jairo Jorge for candidato ao governo do Estado, votarei nele. Nunca sob o argumento estapafúrdio de votar nele porque ele é homem.
Não sou filiado a partido algum. Nunca serei candidato a nada. Sempre votei em pessoas que me pareceram as melhores, as mais adequadas. Quando, anos atrás, declarei meu voto em José Fogaça, militantes de esquerda, desconhecendo sua bela trajetória humanista, me olharam com desdém. Não me intimidei. Tampouco me intimidarei neste ano. Na hora de votar, levarei em conta tão-somente competência e adequação.
Tirza, do holandês Arnon Grunberg, é um livro agressivamente bem-escrito. Conta a história de uma esposa que abandona marido e filhas e, anos depois, volta para casa com a intenção de acertar contas. O embate entre homem e mulher é feroz e doloroso. A questão de gênero, ali, emerge com violência. Homem e mulher saem arranhados e beligerantes. O casamento parece invenção demoníaca.
Para a felicidade geral da nação, espero que isso não aconteça em nossas eleições municipais.