Fui renovar a carteira de motorista, levou 20 minutos. Talvez poucos saibam que antes era um processo moroso e cansativo. Era preciso ir ao Detran, ficar em filas num ambiente lotado e sem conforto. Demorava tanto que havia despachantes para facilitar o andamento de algo que deveria ser banal. Perdia-se um dia com essas questões.
Lembrei com admiração e saudade da pessoa que mudou tudo isso. José Fernando Cirne Lima Eichenberg foi meu colega na Faculdade e grande amigo. Aluno laureado, de inteligência superior e integridade absoluta. O então ministro Brossard convidou-o para trabalhar no Ministério da Justiça, lá iniciou uma carreira brilhante de homem público, que enobreceu a atividade política e de governo. Em Brasília foi exemplar e deixou um nome respeitado e admirado. Ao voltar ao Rio Grande, veio a ser secretário da Administração, da Justiça e Segurança, onde ficou a marca de seu talento e capacidade de realização. Entre inúmeros méritos, colocou ordem nos presídios, motivou as corporações policiais pelo exemplo de trabalho, revolucionou o Detran, dotando-o da estrutura moderna e terceirizada, que hoje a população desfruta. Nunca lhe faltou coragem para enfrentar qualquer desafio. Foi o melhor secretário de Segurança que tivemos, há quem diga que foi o último.
Recentemente uma corja usou o Detran para praticar a corrupção, mas a solidez da estrutura criada por Eichenberg resistiu à ação dos abutres. Hoje pude comprovar a eficiência e a simplificação, ao renovar a CNH. Enquanto aguardava olhei as pessoas que estavam ali, talvez não soubessem que houve alguém que trabalhou com afinco para que elas pudessem ter um serviço rápido e eficiente. Fez mais pela cidadania do que muitos que enchem a boca com esta palavra. Apesar da sua extraordinária capacidade intelectual, era de uma simplicidade inexcedível. Criaturas rasteiras da cena política de hoje diriam que ele era parte de uma elite. Bendita elite.
Pois é meu amigo Zezinho, nesta manhã de julho, usufruindo daquilo que idealizaste e construíste, lembrei-me de ti. A saudade não veio acompanhada de uma lágrima, mas me proporcionou um sorriso, pelo privilégio de ter convivido contigo.