Seu João Idalício, meu velho pai, tem sentenciado com frequência: "Filha, enquanto os políticos ganharem fortunas, a gente vai ter roubalheira e corrupção". O raciocínio parece simplista, mas não é. Aos 83 anos, sabedoria não lhe falta. Compactuo da ideia e penso: como reverter a complexa conjuntura política do Brasil em tempos de esquemas de corrupção tão escandalosos, que são verdadeira afronta à sociedade? Pode parecer radicalismo, mas uma das soluções é mexer no bolso dos parlamentares. Mas como alterar um sistema tão enraizado? Reforma política. Proponho que exista um item descrito exatamente nestes termos nas novas regras: "O salário de qualquer político, seja ele da esfera municipal, estadual ou federal, não pode ultrapassar, em hipótese alguma, o teto do salário de um professor de Ensino Fundamental da rede pública". Em outras palavras, salários de políticos e professores devem ser equiparados. Afinal, para os homens do poder, a remuneração dos educadores parece estar OK.
Só a partir disso, veremos políticos circulando de ônibus pela cidade, cozinhando a própria comida, habitando espaços mais periféricos. Governantes sem mordomias. Pessoas que entrem para a vida pública sem enriquecer ou levar vantagem. Nenhum político terá direito a pensão vitalícia, plano de saúde privado, nem imunidade parlamentar. Serão pessoas que terão como real motivação para entrar na política o poder de influenciar os rumos de uma sociedade e as decisões que beneficiem o interesse coletivo.
Isso tudo pode parecer muito estranho para nós, brasileiros, mas existe um lugar assim: a Suécia. No livro Um país sem Excelências e Mordomias, a autora mostra que o sistema político de lá é baseado em três pilares: transparência, educação e igualdade. Na concepção sueca, sistemas que concedem privilégios e regalias aos políticos são perigosos na medida em que os transformam em uma espécie de classe superior, que não sabe como vivem os cidadãos comuns. Ou seja, cria-se uma distância entre eles e o povo. E isso é tudo o que eles combatem. No país europeu, um deputado só ganha 50% a mais do que um professor primário.
Se no Brasil a profissão de político for equiparada financeiramente à de professor, certamente teremos mais pessoas trabalhando por sonho, por vocação. O pedagogista e filósofo Paulo Freire já dizia: "Eu nunca poderia pensar em educação sem amor". E eu, em política sem amor.