O que a recente escalada da violência nas cidades brasileiras tem em comum com a crise orçamentária e a superlotação de nosso sistema prisional? Todos esses problemas podem ser ao menos parcialmente resolvidos pela regulamentação da produção e da comercialização da Cannabis, que hoje acontecem ilegalmente.
Imagine um país com uma população carcerária reduzida em um terço. Um país cujo crime organizado perdeu sua principal fonte de arrecadação, que costumava financiar a compra de armas. Uma força policial que antes despendia recursos perseguindo pequenos traficantes, e que agora está focada em crimes de maior importância. Uma arrecadação extra de tributos de R$ 6 bilhões impulsionada por um novo setor na economia formal, que atrai investimentos e anima empreendedores. Esse país pode ser o Brasil, daqui a alguns anos, quando abrirmos os olhos para o inevitável.
Se continuar no mesmo rumo de expansão atual, o setor deve movimentar
R$ 140 bilhões nos EUA em 2020. Isso sem contar o impacto indireto em outros setores. Os americanos, que no início do século 20 inventaram a proibição para proteger alguns mercados consolidados, vão virar a mesa e se transformar em líderes mundiais desse novo setor. Um jogo que nós ainda não estamos jogando, por conta do nosso moralismo e da ação de alguns lobbies obscuros.
É verdade que essa mudança criaria uma típica situação de ganha-ganha na sociedade brasileira. Ainda assim, você deve estar pensando que alguém tem que sair perdendo para essa conta fechar. Sim, perderiam os grandes traficantes infiltrados no poder. Perderiam os fabricantes das armas que são usadas na verdadeira guerra que assola nosso país. E os burocratas de uma obsoleta estrutura de justiça e segurança, que temem se tornar inúteis, o que sequer é verdade, visto que ainda haverá trabalho de sobra a ser feito.
Os usuários mais pesados poderiam passar a ser tratados como doentes, assim como já procedemos hoje com fumantes e alcoólatras. Os pequenos traficantes poderiam passar por um processo de formação para atuar na própria indústria legalizada. Enfim, a sociedade toda sai ganhando. Não há mais razão lógica para segurar essa mudança que já está acontecendo.