O pacote apresentado como "solução" de segurança pública pelo governador Sartori é uma grande conquista para o Estado. Não é a salvação de nada, mas pelo menos sabemos que teremos algum investimento nos mecanismos de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, os quais estão mais do que defasados e sucateados. Como diz o ditado, "melhor um pássaro na mão do que dois voando".
Mas, para ser sincero, considero uma ilusão que essas ações trarão resultado na redução da absurda criminalidade em que assola nosso Estado. Os grandes motivos das características da criminalidade urbana atual não estarão sendo atacados.
O governo faz o pouco que pode, mas traçando um comparativo da segurança com um carro, temos hoje um Monza ano 1980, que estava parado por estar com seus pneus furados e sem dinheiro para conserto. Com esse pacote, o governador autorizou a troca dos pneus. Provavelmente o carro possa voltar a andar, mas o motor quase fundido será o mesmo, o sistema de carburação continuará comprometido, e o Monza andará pelas ruas sem surdina, sem pastilha de freios e sem estepe.
A criminalidade no Brasil está arraigada em nossa sociedade, e crescendo numa proporção que não adiantam mais apenas ações reativas. A polícia vai prender, como já vem fazendo, mas a Justiça continuará soltando, pois nossa legislação continua a mesma; a sensação de impunidade dos delinquentes continuará a mesma; a estrutura dos presídios, mesmo que com novas vagas e em presídios novos, continuará caótica e muito abaixo da nossa real necessidade; o sistema prisional continuará sem estrutura para ressocialização de nossos presidiários; a audácia dos delinquentes não mudará, pois suas atitudes são fruto de uma cultura já estabelecida.
Muito bom sabermos que a Brigada Militar e a Polícia Civil não contarão com redução de quadro, pois pelo menos com os números anunciados no pacote do governo, esses estarão sendo repostos. Vale ressaltar que não estamos falando em incremento de efetivo e, tampouco, de reposição do efetivo necessário para os dias de hoje. Os recursos para investimento talvez reduzam a quantidade de coletes balísticos vencidos, reponham viaturas em alguns batalhões e delegacias, mas não ampliarão os recursos necessários conforme tudo o que precisamos.
Mais uma vez ressalto: muito melhor esse pacote do que nada. Apenas precisamos saber que esse é simplesmente uma dose extra de oxigênio para um paciente em estado terminal. Talvez tenha uma sobrevida, porém muitas outras intervenções serão necessárias para alterar a realidade de nossa segurança pública.