O pedido de recuperação judicial da operadora telefônica Oi, envolvendo uma gigantesca dívida de R$ 65 bilhões, é antes de tudo um atestado do fracasso da política dos "campeões nacionais" promovida pelo governo Lula, que tentou criar uma supertele brasileira para enfrentar as gigantes estrangeiras do setor. Em 2008, sem passar pelo Congresso Nacional, o governo mudou a lei das fusões e usou o Banco do Brasil e o BNDES para facilitar a operação. O apelo nacionalista esbarrou na incompetência gerencial e na dificuldade de modernização. Enquanto as concorrentes investiam na telefonia móvel, a Oi ficou presa durante muito tempo na telefonia fixa, que se tornou pouco rentável.
Mas não foi esse o único problema. A Oi também caiu por seu histórico confuso e recheado de arranjos políticos, que começou no processo de privatização do governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, com recursos do fundo de pensão do Banco do Brasil, o consórcio Telemar arrematou o lote das teles do Rio de Janeiro e de 15 outros Estados numa operação tão estranha, que o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, apelidou o grupo arrematador de "telegangue". Depois de virar Oi e já no governo Lula, a empresa obteve ajuda do Banco do Brasil e do BNDES para comprar a Brasil Telecom, que operava em 10 Estados. Assim nasceu a gigante da telefonia fixa, com mais de 60% do mercado nacional.
Quando começaram a aparecer passivos ocultos, a Oi beneficiou-se da mudança da legislação para associar-se à Portugal Telecom. E novamente surgiu uma dívida escondida em euros, que se multiplicou até o descontrole atual.
Agora, para se proteger dos credores e do risco de falência, a operadora campeã de reclamações de consumidores busca o abrigo judicial. O desafio da Justiça, diante de tamanho descalabro, é encontrar uma forma de proteger os mais de 60 milhões de clientes da operadora para que não paguem pela má gestão e pela predatória ingerência política.