Primeira realizada em São Paulo como desdobramento da Lava-Jato, a operação que resultou ontem na detenção do ex-ministro Paulo Bernardo impacta fortemente o Partido dos Trabalhadores e a estratégia de defesa da presidente afastada Dilma Rousseff. O ex-integrante dos governos petistas é casado com a senadora Gleisi Hoffmann, destaque da chamada tropa de choque contra o impeachment, o que dá uma dimensão da repercussão política. O impacto da ação deflagrada ontem, porém, vai além, ao demonstrar o quanto as suspeitas de corrupção estão longe de se restringir às investigações já em andamento, a maior parte concentrada na Petrobras.
A investigação da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor), de São Paulo, sobre um esquema supostamente usado para abastecer o caixa do PT constatou irregularidades em contratos de serviços de informática do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, comandado na época por Paulo Bernardo. As falcatruas descobertas estendem-se a diferentes Estados – incluindo o Rio Grande do Sul, onde ontem houve busca e apreensão e prisão preventiva.
É inadmissível que, além da Petrobras, outras estatais e outras esferas da administração pública venham sendo usadas sistematicamente para desviar recursos dos brasileiros para políticos desonestos. O mais afrontoso é ouvir dos suspeitos a justificativa igualmente fraudulenta de que "todas as contribuições para a campanha são legais e estão registradas na Justiça Eleitoral". Ora, o que importa é a origem dos recursos, e não o carimbo burocrático que tenta legitimá-lo. O aspecto promissor é que as instituições fiscalizadoras começam a se dar conta desta deformação.