No clássico do cinema italiano Ladrões de bicicleta (1948), de Vittorio De Sica, o desempregado Antonio Ricci consegue uma vaga de colador de cartazes. A exigência é ter bicicleta. Mas a sua é roubada. Ele tenta encontrá-la, com o auxílio do pequeno Bruno, seu filho, sem sucesso.
Desesperado, sem que o menino perceba, ele tenta roubar uma bicicleta. Mas é flagrado em pleno delito. Ao ver a cena, o pequeno Bruno entra em desespero. Por compaixão, a polícia o deixa ir embora. Mas não sem antes humilhá-lo.
Roubar nem sempre se deve a desvio de caráter. Pode ser fruto de um ato desesperado. E ainda que a pena seja, como no filme, o constrangimento público, exige punição exemplar. Esta regra é necessária à vida em sociedade.
Do batedor de carteiras ao ladrão de galinhas, do estelionatário ao larápio profissional ou o delinquente que mata para roubar, há bandidos para todos os gostos.
Há também doentes psiquiátricos que roubam por perda do juízo crítico. O cleptomaníaco rouba objetos que não possuem necessariamente valor. Na adolescência, há roubos transitórios por rebeldia. Álcool e droga são ingredientes facilitadores. E há o roubar dos doentes com transtorno de personalidade antissocial.
Penso que muitos ladrões da política brasileira representam variantes dessa condição patológica. À primeira vista, passam por chefes de família exemplares, com hábitos normais e até sucesso profissional. Mas, no fundo, são indivíduos perigosos, com vida dupla na delinquência.
Como os doentes psiquiátricos, eles não parecem moralmente afetados pelas consequências negativas de seus atos. Roubam sem demonstrar nenhum sentimento de culpa. E não exibem compaixão pelos que sofrem as consequências de seus atos.
Mesmo tendo acumulado riqueza suficiente para uma vida nababesca, algo os faz persistir, compulsivamente, na atividade delituosa. Pois têm a certeza da impunidade. E veem-se acima da lei e na crença, até há pouco verdadeira, de que, em nosso país, rico nunca vai para a cadeia.
Doentes ou simplesmente bandidos, não há a menor chance de que esses políticos possam ser resgatados moralmente. Tampouco imaginaria que sua incapacidade de sentir culpa pelos delitos praticados seja reversível. São incuráveis e reincidentes.
Resta à sociedade somente a alternativa de identificá-los e puni-los exemplarmente. E, sobretudo, contê-los. Para impedir que sua rede de influências e cumplicidades venha a sabotar a ação da Justiça.