Enquanto o atirador faz suas vítimas, Christopher Hansen se arrasta em direção ao banheiro. Na fuga da cena de terror que já fora festa, encontra alguém baleado. Ajuda-o a escapar do mais recente massacre contra a população LGBT, que tirou 50 vidas em um bar de Orlando, nos Estados Unidos.
Christopher teve, se que é podemos classificar desta forma, sorte. Por permanecer vivo. Por não ser um dos tantos corpos deixados sem vida na boate Pulse, nas ruas dos Estados Unidos, do Brasil, do mundo. Vítimas de uma intolerância que não vê luz, efeito de discursos de ódio que se alastram com a prerrogativa de liberdade de expressão – como se matar, mesmo que indiretamente, não fosse um ato merecedor de censura.
Jornalistas não são matemáticos, mas adoram números. Dez mortes. Vinte mortes. Trinta. Quarenta. Cinquenta. Nessa valoração de notícia pela magnitude da tragédia, escapam os dramas vividos por poucos, que, juntos, somam não um número, mas a dor incalculável de quem muitas vezes deixa de estar sem nunca ter, de fato, estado. De quem nada fez para merecer tanta hostilidade. De quem só conheceu a vida por uma ótica: a do sofrimento.
E há muito sofrimento. De quem sempre foi oprimido. Até mesmo de quem, de tanto ser oprimido, virou opressor. Agora a pergunta: por que uma pessoa é capaz de ato tão desprezível quanto a hostilidade gratuita, o puro preconceito?
A culpa, vale lembrar, não é da fé. Você pode venerar o que quer que seja; achar seu deus na igreja, a razão da existência numa lagoa nos fundos de casa, a resposta máxima da vida na pedra que chutou enquanto ia apressado para o trabalho. Pode também, vejam só, ter nenhuma fé. Crer em absolutamente nada que não seja cientificamente comprovado.
A culpa é da falta de empatia pelo próximo. As pessoas não têm, em hipótese alguma, o direito de ferir quem vive de uma forma que não lhe agrada. A culpa é da maneira como a fé é conduzida. As pessoas não têm, de maneira alguma, o direito de querer que os demais sigam seu preceitos religiosos.
Nós temos que aprender, o mais rápido possível, a genuinamente amar – o que inclui, certamente, aceitar as diferenças.