Na luta contra o tempo para promover mudanças estruturais ainda no período de expectativas mais favoráveis de início de governo, o presidente interino Michel Temer já está diante de alguns percalços importantes relacionados a reformas que são pressupostos para o ajuste fiscal. Sob o ponto de vista dos gastos, o maior desafio é o pretendido aumento da idade mínima e do tempo de contribuição, como forma de equilibrar a Previdência. No âmbito da arrecadação, há resistências generalizadas a mais impostos. O primeiro desafio do novo governo é buscar no diálogo formas de enfrentar um déficit entre receitas e despesas, descontado o gasto com juros, estimado hoje em R$ 120 bilhões.
O primeiro encontro promovido pelo governo para debater a questão da Previdência, ontem, mostrou mais que uma natural e esperada divisão das centrais de trabalhadores em relação ao tema. O deputado Paulinho da Força (SD-SP), líder da Força Sindical e um dos principais articuladores do impeachment, anunciou ontem a criação de um grupo de trabalho para apresentar uma proposta em 30 dias, depois de considerar "estapafúrdias" as pretensões iniciais. As resistências devem se estender às mudanças nas áreas trabalhista, às quais sindicalistas também se opõem, e tributária, que segue longe de obter consenso entre os entes federados.
Na entrevista concedida domingo ao programa Fantástico, o presidente interino admitiu que só terá "inserção popular" se o seu governo assegurar "efeito benéfico" para a população. Um resultado positivo – que inclui a tão esperada retomada da economia e a melhoria do nível de emprego – depende do reequilíbrio das contas oficiais.
Com uma dívida pública em descontrole, em boa parte devido à Previdência, o país não se ajustará sem custos, e é preciso que os sacrifícios sejam bem distribuídos. Negociadores, de dentro e de fora do governo, não podem ignorar essa questão nos debates, pois é essencial.