Ao dar posse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no seu ministério, a presidente Dilma Rousseff fez ontem um pronunciamento contraditório, defendendo respeito à Constituição e às liberdades democráticas, mas classificando de golpe a ação da Justiça Federal que investiga o monumental esquema de corrupção na Petrobras e a participação de empresários, políticos e servidores graduados na roubalheira. É justamente por causa dessa visão errática que o Brasil está hoje dividido entre aqueles que querem mudança e depuração ética e aqueles que colocaram um projeto de eternização no poder acima dos verdadeiros interesses nacionais.
A democracia brasileira está sólida. Temos que acreditar nas instituições e não apenas naquelas que agradam aos ocupantes do governo. Se o juiz Sergio Moro ultrapassou limites ao divulgar gravações de escutas telefônicas cujos conteúdos interessam a todos, o Supremo Tribunal Federal, que o novo ministro-chefe da Casa Civil classifica como acovardado, terá a oportunidade de corrigir ou confirmar - e esta decisão tem que ser respeitada, doa a quem doer.
O país não pode tolerar qualquer tipo de interferência de outros poderes no Judiciário, que precisa de autonomia e independência para cumprir o seu papel constitucional. Cabe aos órgãos corregedores do próprio Judiciário e a instâncias superiores cuidar para que não haja motivações políticas em decisões judiciais como a que determinou a suspensão da posse do ex-presidente como ministro, em caráter liminar.
O Brasil precisa, sim, de um golpe, mas não desse que os defensores do governo tentam atribuir a qualquer opositor. Precisa é de um golpe de bom senso, que evite o radicalismo e o ódio, sem renunciar ao combate implacável à corrupção e nem à busca da retomada do desenvolvimento.