Dia desses, na televisão, um consultor de mobilidade urbana argumentou que a quantidade de pessoas que passavam por uma ciclovia de São Paulo era insignificante frente à de gente que circulava pelo mesmo ponto de carro ou de ônibus. Eram mais ou menos cem ciclistas por hora contra 20 mil pessoas de ônibus e 10 mil de carro, o que significava que o número de usuários da bicicleta era irrelevante para a mobilidade da cidade. Depois da reportagem, os apresentadores do programa seguiram apontando dificuldades e problemas da implementação de espaços exclusivos para ciclistas.
O que os jornalistas parecem ter esquecido de mencionar é que o uso da bicicleta como modal de transporte está engatinhando no Brasil. As ciclovias realmente não têm um impacto significativo para melhorar o tráfego no presente. Sim, elas atrapalham um pouco a circulação de carros. Não, elas não são completamente interligadas. Sim, há risco de assaltos e atropelamentos. E, não, ainda não há muitos ciclistas.
Mas e lá na frente? A cultura da bicicleta estará mais madura, a rede cicloviária estará mais abrangente e, espera-se, haverá mais respeito com o ciclista. Parece utópico, mas foi com essa lógica que Dinamarca, Holanda e França, hoje referências em mobilidade, começaram: alguns quilômetros de ciclovias e o desejo de humanizar o trânsito. Quando os brasileiros visitam esses países, ficam encantados com a relação que os moradores têm com as cidades.
Essa realidade só foi possível graças a governos que decidiram enfrentar a resistência de parte da população incomodada com a diminuição do espaço para veículos automotores. E é de líderes assim que os municípios daqui precisam. De homens e mulheres com coragem para desagradar os que têm dificuldade de pensar adiante e ainda acreditam que o alargamento de vias é a única solução para a melhora do fluxo no trânsito.
Lá na frente, seremos todos gratos a estes bravos administradores. E também aos cidadãos de hoje que estiveram dispostos a se sacrificar um pouco em nome do futuro e não se aborreceram com os centímetros de calçadas e ruas cedidos à bicicleta.