Os ricos estão cada vez mais ricos. É o que afirma o professor Joseph Stiglitz, da Universidade de Colúmbia, e ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001, no livro The Great Divide. Nos Estados Unidos, o 1% mais rico concentra 40% da riqueza do país. O fenômeno se repete na maioria dos países do planeta, segundo a obra O capital no século XXI, do francês Thomas Piketty.
Economistas de envergadura sugerem que se moralizem ganhos no mundo financeiro, tributem grandes fortunas, evite endividamento a juros abusivos, combata a corrupção e aumentem impostos de quem ganha mais.
A dissertação de mestrado do pesquisador Fabio Castro, disponível no site da Receita Federal, estima que 0,9% dos brasileiros detenham 68% da riqueza notificada ao fisco. Ou seja, a concentração de renda no Brasil é ainda maior do que nos Estados Unidos. E nós, brasileiros, tributamos menos. Nossa alíquota máxima é de 27,5%, enquanto a deles é de 39,6%.
Tributos foram criados para dar ao Estado os meios para prover os serviços que beneficiem a todos. E há uma base moral para que ricos tributem mais do que pobres. Contudo, as pessoas relutam em pagá-los. Muitos acham injusto trabalhar e dar parte dos proventos ao governo, sobretudo quando este é visto com desconfiança.
O Estado brasileiro tem alimentado fortemente este sentimento, pois dá evidências diárias de seu mau comportamento. O preço pago pelos serviços vai muito além do que valem. E há a suspeita de que nosso dinheiro pare em mãos duvidosas.
Pessoalmente, eu apoiaria um aumento tributário dirigido à melhoria do ensino público. Um sistema que oferecesse igualdade de oportunidades a todos os brasileiros. Faria o mesmo para a saúde, a segurança pública ou outras atividades essenciais. Mas há quem não se importe.
Eu não vejo graça em viver bem, enquanto os outros vivem mal. E não me oporia a pagar mais por ações que reduzissem injustiças sociais. As mudanças tributárias poderiam contribuir neste processo. Sou professor de medicina. Por minhas mãos, passam centenas de universitários a cada ano. Conto nos dedos o número de alunos negros ou de origem pobre que formei. O Brasil tem de dar mais chance a estas pessoas.
O resgate da credibilidade nos bons políticos é fundamental para que isto ocorra. Eu me incluo entre os brasileiros privilegiados, cujo bolso toleraria um aumento de tributos. Desde que houvesse garantias contra o seu desvio para propósitos menos nobres.