"O problema de Faoro, contudo, não é o Estado, e sim a natureza que ele assume nas condições históricas brasileiras (...), a dificuldade senão impossibilidade histórica do Estado racional liberal-democrático (...)"
Gabriel Cohen, prefácio de Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro
Em tempos de crise global política e econômica, quando os velhos planos da racionalidade absoluta já não dão conta mais das contingências do mundo, quando a volatilidade das relações humanas parece mais caótica do que nunca, é possível visualizar uma grande chance para a nação brasileira.
Em tempos de um Brasil no qual as vozes do "complexo de vira-lata" bradam cada vez mais alto, mostrando um país incapaz de reverter seu próprio rumo histórico, um sentimento paira no ar e parece teimar em unir esquerdistas, direitistas, liberais, socialistas, conservadores, progressistas e tantos outros. É a necessidade urgente e inconteste de limpar o ambiente político do país e a corrupção endêmica que o assola, desde que nos conhecemos como tal.
Em tempos de modernidade líquida, para usar a expressão do sociólogo Zygmunt Bauman, temos uma oportunidade de nos unirmos contra um mal antes onipresente, mas sub-reptício, e que hoje começa a mostrar as garras explicitamente, nu e cru, em todas as mídias possíveis, saindo do imaginário do país para se concretizar em escândalos políticos cada vez maiores.
Em tempos como estes, em que se fala da retirada de direitos e do enfraquecimento do Estado para enfrentamento da crise, apresenta-se a chance ao povo brasileiro de extirpar de vez o mal congênito da politicagem, cortar na própria pele, arrancar o câncer que se alimenta desta nação e a impede de fazer valer os desígnios antigos que a nomeavam como o "país do futuro".
Esse país do futuro, grande por natureza, grande porque seríamos capazes da miscigenação de raças, sem ódios ou extermínios vistos alhures, está nas nossas mãos, aguardando uma ordem nossa para surgir exuberante e capaz de encabeçar uma nova ordem mundial.
Esse país do futuro é o da concretização das promessas constitucionais de 1988 que refundaram a nação e a desenharam como uma República democrática e de direito, capaz de resolver suas desigualdades. Não tenhamos dúvidas, o Brasil do futuro que sonhamos, diferente daquele que Eric Hobsbawn chamou de "um monumento à negligência social", passa pelo devido respeito ao Direito e pela real efetividade da Constituição.