A Editoria de Opinião de Zero Hora selecionou cinco grandes temas do ano para análise editorial, levando em conta o impacto no país e no Estado. A série retrospectiva inclui outras visões, em vídeos de editores, colunistas e repórteres do jornal, e uma projeção para 2016.
Em mais uma demonstração característica do senso de humor ao qual os brasileiros costumam recorrer em momentos de maior dificuldade, muitas mensagens de congratulações na passagem de ano já desejavam direto um feliz 2017. O ano de 2016 tem pelo menos dois grandes eventos na agenda para ser simplesmente ignorado - os Jogos Olímpicos de agosto e as eleições municipais de 2 de outubro -, ainda que se inicie marcado pelo desafio da superação da crise política e econômica que caracterizou todo o 2015. Independentemente de divergências partidárias ou de qualquer outra ordem, portanto, é preciso que haja uma união de propósitos para o país superar logo esses desafios, livrando os brasileiros de um custo que vai se tornando insuportável.
Razões não faltam para explicar o impasse político e econômico que o país enfrenta hoje, no limiar do novo ano. Por conta de sucessivos equívocos na fase inicial do segundo mandato, quando não conseguiu governar, a presidente Dilma Rousseff alcançou níveis recordes de impopularidade e enfrenta a possibilidade de impeachment, da qual nem mesmo o seu vice-presidente está livre. No Legislativo, o cenário é igualmente desolador: os próprios presidentes da Câmara e do Senado se encontram ameaçados de perda do mandato, ao mesmo tempo que nada menos de um terço do Congresso está sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesse cenário desolador, as expectativas se voltam para o Judiciário e demais instituições que, ao longo de 2015, ampliaram o combate à corrupção, abrindo frentes de dimensões inéditas na história. Os resultados chocam os brasileiros pelas dimensões, mas, ao mesmo tempo, ajudam a reduzir a sensação de impunidade. Nunca o país tinha ousado tanto no combate às relações incestuosas entre corruptores e corruptos, a ponto de ter enfrentado mais de duas dezenas de conglomerados empresariais no âmbito da Operação Lava-Jato, que apura desmandos na Petrobras, com dezenas de condenações e mais de uma centena de prisões.
Em meio a esse processo que parece não ter fim, mas precisa ser debelado, a crise política se acirrou, testando a capacidade de resistência das instituições, e a econômica alcançou níveis alarmantes, a ponto de colocar em risco até mesmo algumas conquistas sociais relevantes dos últimos anos. Uma delas, que se constitui num desafio mais imediato para o país, é a manutenção do nível de emprego, em consequência da falta de segurança para investir, da inflação e dos juros altos, da queda nas vendas e da produção, do aumento do endividamento do poder público, em todas as instâncias da federação, da incompetência do governo federal para agir e corrigir seus próprios erros.
Poucas vezes, o país teve diante de si tantas razões para se superar com rapidez e eficiência, reduzindo o ônus imposto à sociedade por conta da crise política e econômica. Ainda é tempo de provar que 2016 será um ano de dificuldades, mas também de transformações, que permitam aos brasileiros se reconciliar com a estabilidade em todos os sentidos. Nesse processo, eventos como a Olimpíada e as eleições podem ser inspiradores em muitos aspectos.