A Editoria de Opinião de Zero Hora selecionou cinco grandes temas do ano para análise editorial, levando em conta o impacto no país e no Estado. A série retrospectiva inclui outras visões, em vídeos de editores, colunistas e repórteres do jornal, e uma projeção para 2016.
O rompimento de duas barragens da mineradora Samarco no município de Mariana (MG), no início de novembro, legou ao país uma avalanche de lama tóxica, mas também lições importantes que precisarão ser encaradas com mais seriedade daqui para a frente, evitando a repetição de tragédias semelhantes. Uma delas é que não bastam exigências legais se elas não são fiscalizadas de forma permanente e com rigor. Outra, que preocupações com o desenvolvimento sustentável não podem se resumir a boas intenções nos relatórios de empresas ou de discursos oficiais. O maior desastre ecológico do país e um dos de maior repercussão mundial ganha ainda mais expressão num ano histórico para o meio ambiente, pois coincide com a divulgação da encíclica ecológica Laudato Si, do papa Francisco, e a realização da Conferência do Clima em Paris, a COP21.
No documento, no qual trata da "casa comum" da humanidade, o Papa critica os modelos de produção pouco preocupados com os danos ambientais e as vidas humanas. Em seu pronunciamento da COP21, em que a catástrofe mineira ganhou destaque, a presidente Dilma Rousseff disse que "a ação irresponsável de empresas provocou o maior desastre ambiental na história do Brasil, na grande bacia hidrográfica do Rio Doce". A empresa de mineração Samarco, que se vangloriava de usar "as melhores práticas" de sustentabilidade, tem responsabilidades sobre o tsunami de rejeitos formados por uma verdadeira tabela periódica, como definiu um político da região, mas as causas são mais amplas. Entendê-las é fundamental para evitar a repetição de fatos semelhantes, num país em que riscos potenciais nessa e em outras áreas de atividade estão por toda parte.
A torrente de lama marrom que devastou vidas e deixou perdas materiais importantes para populações inteiras, privando-as até de água potável, destruiu o Rio Doce e poluiu uma vasta área do oceano, já na costa do Espírito Santo, dizimando ecossistemas inteiros. Tudo isso poderia ter sido evitado ou, no mínimo, minimizado, se uma atividade de risco como a mineração fosse devidamente monitorada e fiscalizada. O fato concreto é que o acompanhamento das barragens rompidas era precário, a fiscalização dos órgãos ambientais deixou a desejar e o alarme que poderia ter salvo vidas simplesmente não soou.
O pesadelo de Mariana, que de alguma forma se reproduz em outras regiões do país, e não apenas na mineração, é consequência de uma visão de mundo em que o interesse econômico prevalece sobre o social. Ainda que vá exigir tempo, mas principalmente recursos financeiros, o drama enfrentado hoje tem solução, como advertiu o célebre fotógrafo Sebastião Salgado, nascido na região.
A correção de uma ótica ambiental deformada, porém, que está na origem da catástrofe mineira, não se dará apenas por meio de multas como as aplicadas à empresa responsável. Mesmo elevadas, sanções financeiras não intimidam poluidores aferrados ao risco e confiantes em planejamentos técnicos. O país precisa é de uma mudança cultural, na qual crescimento sustentável não se limite apenas à retórica.
Repórter comenta o desastre de Mariana
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