Em 1960, o Brasil recebeu a visita do filósofo francês Jean-Paul Sartre, em companhia de Simone de Beauvoir, para atender a um pedido do escritor Jorge Amado, que os convidara para conhecer diferentes regiões da pátria tupiniquim, momento em que o casal vislumbrou as exuberantes belezas naturais de nosso país tropical.
Ao longo da concorrida agenda de compromissos, o filósofo existencialista realizara palestras, mas em uma de suas conferências, ao observar o auditório, surpreendera a todos com a pergunta "onde estão os negros?" Por ser o público presente exclusivamente branco, os quais, em sua maioria, representavam a elite intelectual brasileira da época, não havia negros no recinto.
Apesar de a sociedade brasileira ter uma composição multiétnica, os negros da década de 1960 não estavam ocupados com o estudo da filosofia, tampouco haviam lido a clássica obra de Sartre, O Ser e o Nada, pois estavam e ainda estão excluídos, vitimados, silenciados, relegados a uma condição marginal de existência...
Qual é o lugar historicamente designado à negritude brasileira? Quantos afrodescendentes há como governadores de Estados? Temos negros médicos, diplomatas, magistrados, reitores de universidades? Não, eles estão onde não é necessário possuir formação escolar e, como consequência, desenvolvem as profissões mais modestas, além de receberem os menores salários. Uma publicação da revista Época (2012) assegura que menos de 1% dos estudantes dos cursos de ponta da Universidade de São Paulo (USP) são negros.
Falta aos afrobrasileiros mérito para o ingresso no espaço universitário? Infelizmente, ainda sofremos com a herança da escravatura, que abrangeu um período de mais de 350 anos de predomínio do trabalho escravo, sendo o Brasil o último país do continente americano a abolir a escravidão. Talvez por essa razão os afrodescendentes ainda encontrem enormes dificuldades de ascensão social.
O Dia Nacional da Consciência Negra é um convite a uma reflexão, para reafirmar permanentemente a cidadania, bem como a valorização da população afrodescendente. Assim, importa sonhar com os ideais de uma sociedade menos excludente e mais igualitária. Desse modo, o questionamento do pensador francês durante sua visita ao nosso país continua a ecoar: onde estão os negros do Brasil?