Um anúncio na Zero, no fim de outubro, prometia que o show de Jorge Benjor em Porto Alegre seria eletrizante. Há muito tempo eu não lia que algo pode ser eletrizante. Assim como dificilmente se lê uma frase como a que vi na Folha de S. Paulo sobre a foto de uma cena triste. O texto dizia que a foto era um soco no estômago.
Um dia, quando desaparecer o Facebook, você vai entender por que os mais velhos têm saudade de frases, palavras, jargões e coisas aparentemente banais. Adolescentes sentem falta de algo, apenas falta, porque não acumularam tempo suficiente para sentir saudade.
Mas chega o dia em que quase tudo o que sentimos é saudade. Do que é importante e das coisas mais singelas. Da imagem do cartaz na frente da loja de secos & molhados: fechado para balanço. Das próprias lojas de secos, molhados & armarinhos. Do "faz-se frete" escrito em camionetes com carroceria de madeira (por que escreviam o "faz-se"? Se fosse só "frete", poderiam pensar que a camionete pedia, e não que oferecia frete?)
Ninguém diz mais que algo está inserido no contexto. Até as pessoas muito bem humoradas deixaram de dar gaitadas. Não se desce o lançante. Não frequentam casa de tolerância e nenhum guri foge de uma briga como um azougue. Não há nem mais postes de rua com "conserta-se gaita". No máximo, "aplica-se sinteko", com k.
Não se criam mais galinhas legornes e galos garnizés nos pátios. Os ricos deixaram de ser grã-finos. Não se põe a correspondência em dia. Ninguém mais sai saracoteando por aí.
Não se toma mais vinho suave de garrafão. Bares não usam mais o aviso "sob nova direção". Estão desaparecendo as oficinas mecânicas com a placa: Fischer & Filhos. Ou os restaurante Dois Irmãos (por que os estabelecimentos nunca tinham três irmãos? Ou então: Müller & genro? Por que não se via: Fagundes & sogra?).
Ninguém mais larga uma piruada. Já não pipocam comentários no Orkut. A vida deixou de começar aos 40.
Mulheres balzaqueanas de mais de 30 hoje são adolescentes. Não se lê mais que alguém gosta de uísque on the rocks.
Deixaram de falar do porco chauvinista, o machista dos anos 70. Está aí uma expressão que poderia voltar com força, aproveitando a nova safra de homens com medo de mulheres: vá se tratar, seu porco chauvinista.
Mesmo que os porcos possam, compreensivelmente, se sentir ofendidos.
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José Maria Marin está em prisão domiciliar no 41º andar da majestosa Trump Tower, em Nova York. Mafioso previdente tem cadeia própria e na 5ª Avenida. Cada um com a Papuda que merece.