A afirmação irônica usada para justificar atos impensados após uma bebedeira pode ser utilizada no sentido literal pelo artista Romero Britto. Nascido em 1963, no Recife, o pernambucano se radicou em Miami há 28 anos após abandonar o curso de Direito no Brasil para retomar o caminho artístico cultivado desde a infância. E, antes de ser proprietário do maior estúdio dos Estados Unidos - ultrapassando até o do nativo Jeff Koons -, e se sentar à mesa de jantar do prefeito de Miami, Tomás Regalado, Britto expunha sua arte na rua e improvisava um ateliê em um salão de beleza. Foi lá que Michel Roux, então presidente da Absolut Vodka, captou o traço forte e a mistura de cores do brasileiro e levou três de suas obras para uma campanha publicitária que percorreu o mundo. Estava dada a largada para o fenômeno pop Romero Britto.
Em visita recente ao Brasil para anunciar sua parceria com a Coca- Cola para os Jogos Olímpicos de 2016, o artista chegou ao Museu de Arte Moderna do Rio trajando Dolce & Gabbana da cabeça aos pés, à exceção do relógio Swatch, um dos tantos produtos licenciados com sua assinatura. Com forte sotaque inglês e enferrujado nas conjugações em português, agradeceu ao convite para correr com a tocha olímpica e já se imaginou conduzindo o símbolo pela Praia de Piedade, em Pernambuco. Entre uma selfie aqui e um desenho em um guardanapo de pano acolá, falou à coluna sobre planos futuros:
- É tanta coisa que nem paro para pensar. Vou abrir minha primeira concept store em Hong Kong e o Príncipe Charles me convidou para fazer parte do charity board dele, por exemplo. São oportunidades de apresentar e ajudar com a minha arte. Também estou realizando uma expansão em Miami, com uma loja voltada para obras originais e esculturas e outra dedicada à pop-art e aos produtos para o público em geral.
Eis o ponto que tanto gera discussão. Especialistas debatem a popularização e a reprodução constante das obras do artista, que, na visão dos críticos, causam a perda da singularidade e relevância. Ciente da enxurrada de análises a respeito de suas pinturas, principalmente em tempos de redes sociais, Britto defende seu estilo de trabalho categorizando- o como democrático:
- Tem algumas pessoas no mundo das artes que acham que a arte só tem que ser para a elite. Penso que tem que ser para todo mundo. Fico feliz que haja grandes colecionadores da minha arte. Meu trabalho está na coleção da Rainha da Inglaterra, da família Slim, que é a maior colecionadora de arte do mundo, e da sobrinha de Peggy Guggenheim, que foi a maior patrona das artes dos tempos modernos e adora meu trabalho. Claro que tem quem fale por inveja e por ignorância, e o mundo está aberto para falarem o que quiserem, mas a gente também tem que estar aberto para as coisas novas.
E, apesar de Britto ser a cara de Miami - já no aeroporto os turistas são impactados na chegada pelas suas cores - e ter sido parte do Super Bowl, evento mais norteamericano impossível, ele responde quase em tom de ofensa quando questionado se já está mais lá do que cá:
- Não! Eu sou brasileiro. Moro nos Estados Unidos, mas, aonde vou, falo e levo o Brasil.
*A colunista viajou ao Rio de Janeiro a convite da Vonpar e Coca-Cola Brasil