Era para ser simples, mas a Receita Federal complicou o eSocial, sistema de unificação do recolhimento de contribuições pagas aos empregados domésticos. Um processo informatizado que deveria acolher com facilidade o mais recente direito do trabalhador, representado pelo benefício do FGTS, transformou-se num incômodo que o governo poderia ter evitado. Somente depois das tentativas frustradas de milhões de pessoas, que não conseguiam acessar o site expedidor de uma guia, as autoridades decidiram adiar a data-limite para quitação das contribuições.
O que mais impressionou, em meio ao desgaste provocado pela pane no sistema desenvolvido pelo Serpro, foram as declarações das autoridades. Como a do secretário da Receita, Jorge Antônio Rachid, de que a data não seria alterada porque o prazo fora estabelecido em lei. Foi um comentário desrespeitoso com a aflição de pessoas que apenas queriam cumprir a lei. Se o impasse foi provocado pelo setor público, que também propõe leis e determina normas, muitas vezes compulsoriamente, que se alterasse a data. Foi o que, por pressão, acabou ocorrendo.
O lamentável é que se repetiu o que já havia ocorrido neste ano quando das tentativas fracassadas de quem pretendia ter acesso, via internet, ao portal de inscrição no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). Com a sucessão de episódios, o governo pôs à prova a sua capacidade de cometer erros e de subestimar a tolerância da sociedade a tanto desrespeito.