Editorial diz que descrença na política não deve impedir os cidadãos de aperfeiçoá-la. Você concorda? Clique aqui
O envolvimento de governantes e parlamentares em escândalos de corrupção, a tomada de decisões que contrariam a vontade majoritária da sociedade e a voracidade insaciável da máquina pública para consumir os recursos dos impostos transformaram o cidadão brasileiro num descrente da política. Sem levar em conta o fato de que os ocupantes do poder foram levados a ele pelo voto individual dos eleitores, os brasileiros costumam generalizar e associar política a tudo de ruim que existe no país. Político virou sinônimo de ladrão, corrupto e aproveitador. A investigação continuada de escândalos como o mensalão e a expropriação da Petrobras acentuam ainda mais essa impressão generalizada de descrença. Mas há um limite para o desencanto. Como ensinou Bertolt Brecht, o pior analfabeto é o analfabeto político, que se limita a criticar e se exclui de decisões que afetam a sua vida.
Evidentemente, uma crise de dimensões da atual tem potencial para aprofundar o ônus para os brasileiros, sob o ponto de vista tanto político quanto econômico. Desgastados ainda mais pelo envolvimento direto de figuras influentes em escândalos como os apurados pela Lava-Jato, o Congresso e o Planalto tendem a ficar paralisados por algum tempo, à espera de novos desdobramentos. E isso deve contribuir para atrasar ainda mais a vigência de ações necessárias para a conclusão do ajuste fiscal, por exemplo. O resultado prático é que a economia vai continuar gerando malefícios ainda por mais tempo, antes de voltar a se recuperar.
Ainda que a dimensão dos fatos sob investigação passe a ideia de o país estar mergulhado em corrupção, os ganhos sob o ponto de vista institucional são evidentes. Mesmo ações inéditas, como a prisão de um senador no exercício do mandato, foram feitas no âmbito da Constituição e avalizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O próprio Senado, pressionado pela opinião pública, fez a sua parte de forma transparente, evitando as consequências de um desgaste ainda maior na sua imagem e um indesejável conflito entre poderes. São indícios fortes de que o processo de depuração ética em andamento no país pode desgastar ainda mais a política, mas ao final acabará contribuindo para fortalecer a democracia.
Nunca, no Brasil, tantos poderosos estiveram simultaneamente ao alcance da lei. Os brasileiros podem até estar diante de razões de sobra para descrer da política, mas só poderão modificar essa situação com participação ativa, fazendo boas escolhas e aumentando a vigilância sobre os seus representantes.