A crise política transformou o Brasil no país do achismo e dos verbos no condicional. Sem informações confiáveis, os jornalistas abusam do "teria", "seria", "faria", "negociaria". A gangorra desnorteou os analistas políticos e econômicos que tentam explicar a subida ou a descida do dólar, que não parece seguir lógica alguma. Um dia se diz que caiu porque Dilma está enfraquecida, no outro porque o impeachment perdeu gás. Quem colecionar as explicações para as oscilações da moeda e da Bolsa corre o risco de sofrer uma crise de labirintite.
Na quarta-feira, o dólar fechou em queda de 2,08%. Na véspera, subira 3,58%. O cenário de incerteza na política é o paraíso dos especuladores. O mercado, esse ser sem rosto e de humor instável, emite sinais contraditórios, influenciado pela crise política interna e por fatores externos.
Na gangorra de Brasília, as duas pontas ficaram mais equilibradas depois das liminares dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, que enfraqueceram a posição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para negociar com a oposição.
De outra parte, a presidente e seus escudeiros saíram da inanição para tentar recuperar o controle no terreno da política. Em uma frente, chamando os movimentos sociais para montar barreiras de proteção. Em outra, fazendo a entrega dos cargos prometidos ao PMDB, o que deve resultar em uma frenética dança de cadeiras no segundo e terceiro escalões nos próximos dias. No Rio Grande do Sul, o PT deve perder as joias da coroa para o PMDB, o Grupo Hospitalar Conceição, dirigido por Sandra Fagundes, e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), comandada por Sereno Chaise.
Quando a montagem do quebra-cabeça estiver concluída, em meados de novembro, o Congresso apreciará, enfim, os vetos da presidente à pauta-bomba de Eduardo Cunha, devolvendo um mínimo de serenidade ao país. Os líderes do partido sempre deixaram claro que não bastava aumentar o número de ministérios se o PT continuasse com os cargos imediatamente abaixo, que fazem a máquina andar.
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Crise política
Rosane de Oliveira: Brasília experimenta o efeito gangorra
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Rosane de Oliveira
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