O escritor Ignácio de Loyola Brandão e um grupo de amigos bebiam num bar de Copacabana. Um homem vestindo um escafandro entrou, caminhou em câmera lenta até a mesa do canto e sentou-se sozinho. Loyola escreveu uma bela crônica sobre a aparição.
Conta que os amigos continuaram rindo de piada velha, sem que ninguém fizesse qualquer referência ao fato de que havia no bar um homem num escafandro. Até que Loyola se irritou:
- Sei que vocês também estão vendo o homem do escafandro. Não adianta fingir.
Os outros continuaram bebendo e dando risada. O homem quase não se mexeu e não pediu nada. Apenas cruzou as mãos e assim ficou, sem tirar o capacete de ferro.
Eduardo Cunha é hoje o homem do escafandro. É a maior aberração da política brasileira desde Collor, mas tudo parece normal.
Poucos sabiam da sua existência, até que um dia ele apareceu, já com o escafandro. Uns fizeram que não viram e outros tiveram uma ideia: o Brasil precisava mesmo de alguém que andasse por aí vestindo um escafandro.
Cunha é um desses sujeitos aparentemente improváveis da política. O Brasil adora figuras esdrúxulas, mas nunca antes alguém havia aparecido de escafandro. Uma grande revista chegou a estampá-lo na capa como estadista do século 21. A direita o acolheu como o novo Jânio Quadros. E todos sabiam que era um cara enrolado.
Mesmo assim, foi bajulado e se tornou tão poderoso a ponto de comandar a oposição ao governo e a montagem da tal pauta-bomba, que aumenta gastos e pode quebrar o país.
Mas sua principal missão, como controlador absoluto das manobras da Câmara, vinha sendo a de viabilizar o golpe. Por isso, está à frente dos que pretendem destruir Dilma e a economia. Todos os seus seguidores o veem dentro do escafandro, mas muitos fingem que ele é parte das nossas vidas e da democracia. Tudo normal.
Não se sabe o que aconteceu com o homem do escafandro do bar do Loyola. De Eduardo Cunha, sabe-se tudo. Ele reuniu seus seguidores num canto e ameaça quebrar o bar.
A direita, parte da esquerda, parte da imprensa, parte dos genéricos formadores de opinião, parte da universidade - enfim, boa parte do bar finge que não é nada com ela.
Alguns espertalhões acham que chegou a hora de se desfazer de Cunha. Outros olham para o canto onde está Michel Temer como arlequim. E Aécio acaba de chegar vestido de Chapolin.