Um dos mais nefastos efeitos colaterais da crise política é o congelamento do ajuste fiscal e a consequente letargia em se promover a etapa seguinte do plano Levy de recuperação da economia: uma profunda reforma administrativa que emagrecesse, desburocratizasse e injetasse ânimo no mamute estatal. Com a perspectiva de um rombo de pelo menos R$ 50 bilhões neste ano, o desastre das contas ameaça ruir a estabilidade econômica por uma razão: na esteira da ideologia intervencionista e do populismo eleitoreiro, os gastos federais explodiram nos últimos 12 anos.
Nesta semana, o jornal O Globo revelou uma amostra das aberrações. Somente a Presidência da República gastou R$ 9,3 bilhões em 2014, 210% a mais do que em 2005, já com o desconto da inflação. O núcleo em torno da presidente consumiu R$ 747 milhões, quase o dobro do que os súditos britânicos pagam para sustentar sua monarquia. Para onde quer que se olhe, há um sortimento infindável de queima de dinheiro público. Os governos Lula e Dilma criaram mais 34 mil cargos de confiança e nomearam 130 mil novos funcionários, sem contar as estatais. Aí, a farra vai ainda mais longe. Na Eletronorte, boa parte do lucro de R$ 2,2 bilhões, obtido também às custas da pancada na tarifa de energia, foi dividido entre os 3,4 mil funcionários. Um deles faturou R$ 152 mil em junho.
O que o desperdício não leva, a burocracia consome: há no governo um cipoal de 49,5 mil áreas administrativas. Segundo O Globo, apenas na saúde 1.358 organismos têm poder de gestão. E a cada dia são criados no país 520 novos regulamentos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento. A licenciosidade com o dinheiro público por aqui espanta o mundo. Na edição de terça-feira, o The New York Times definiu o Brasil como uma enorme Grécia, devido à benevolência de seu sistema de aposentadorias públicas. E ai de quem tentar se indispor contra a gastança: a máquina e as corporações trituram seu futuro político.
Ao longo da história, a máquina pública inchou, emperrou e passou a trabalhar mais para si mesma, devorando benesses e uma carga tributária crescente. Há alguns bolsões de abnegação e eficiência no governo, mas, no conjunto, o sistema não se presta para o mais elementar: servir ao público. Era isso que Levy, baseado em sua experiência na iniciativa privada, planejava mudar. A crise política e as sabotagens internas travaram de vez qualquer esperança de reforma.