Políticos carregam a alça do caixão, mas não entram junto na sepultura. Por isso, só a assombração do suicídio coletivo explica a série de rasteiras na presidente Dilma nesta fase em que, mais do que nunca, precisa dos partidos que a elegeram para garantir o ajuste fiscal e manter seu mandato no balão de oxigênio.
Seguindo o instinto de preservação, Dilma faz uma dança das cadeiras na equipe mais próxima e despacha uma cota alentada de ministérios para o PMDB, um partido com habilidade de ser governo e oposição ao mesmo tempo. Ainda é cedo para estimar os efeitos da prescrição de PMDB na veia para a sobrevida do dilmismo, mas um efeito colateral já surgiu: o PT produz crescentes anticorpos de rejeição à presidente.
Embora haja uma revoada de petistas para outros partidos, o ataque ao coração do Planalto foi disparado nesta semana pelo manifesto da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, contra a política econômica de Dilma. Como Joaquim Levy é o avalista do ajuste fiscal que tenta consertar no mandato Dilma 2 as contas destroçadas pelo Dilma 1, sabotá-lo corrói o pilar que sustenta todo o resto do governo.
A origem do manifesto é incerta, mas percebem-se ali as digitais de um novo coro de descontentes engrossado por movimentos sociais e petistas históricos que sempre olharam de lado para uma presidente nutrida no velho PDT. Há também o Fator Lula, que fareja problemas a anos de distância. Como nada de importante no PT ocorre sem o aval de Lula, é de se desconfiar até onde o líder eterno do partido vem agindo para estimular ou não as críticas e se distanciar da impopularidade de Dilma. Para abortar o manifesto, ele, decididamente, não agiu. E, em um caso desta monta, uma improvável omissão equivaleria ao endosso silencioso do ataque.
Se Lula está fazendo jogo duplo, bem-vindo ao tabuleiro de Brasília. A proximidade com o PMDB contagiou o PT, cujas peças se movimentam hoje entre os corredores do poder e a sobrevivência individual. O partido se afasta mas não abandona seus tesoureiros; se afasta mas não muito dos enrolados no petrolão. Agora, se afasta, mas não totalmente, de Dilma. A questão é se o empurrão não será demasiadamente forte, a ponto de levar a presidente já fragilizada para uma sepultura política cavada também com a ajuda dos companheiros.