Por que recomendam que eu tome alguns cuidados ao sair à rua para evitar assaltos e, quando alguém aconselha que eu evite roupas que exponham meu corpo porque posso atrair a atenção de um estuprador, aquelas mesmas pessoas se escandalizam e dizem que é machismo? "A culpa nunca é da vítima" agora é relativo? Depende do crime? Se eu for assaltada quando estiver com uma joia à mostra, ou com o celular na mão, ou bem-vestida demais tenho culpa?
O corpo não é um objeto, mas para o criminoso não faz diferença. É algo que ele quer. E ele toma para si, tanto faz o que a lei estabelece. A mente de um criminoso jamais vai compreender direito de respeito incondicional ao nosso corpo. A culpa sempre será do criminoso. No entanto, se fazemos de tudo para preservar nossos bens, inventando a cada dia um esconderijo secreto para celulares e carteiras ao sairmos à rua, por que não preservamos também nosso bem maior, que somos nós mesmos? Não será um pouco de teimosia e ingenuidade, considerando o cenário de insegurança em que vivemos? Não podemos adotar a filosofia do "comigo nunca vai acontecer". Na verdade, ao não nos precavermos, estamos pagando para ver. E dizer isso não é dizer que a mulher que foi atacada e vestia saia curta é culpada. Não, ela não é culpada. Mas será que, dependendo da roupa escolhida, não aumentamos o risco que já corremos simplesmente por sermos mulheres?
A cada dia, estamos mais vulneráveis a ataques, como vítimas de assalto ou de estupro. E essa é uma questão que vai muito além de discutir a "coisificação" da mulher. É principalmente a sensação de impunidade e de falta de vigilância a responsável por este cenário. Lemos com frequência nos jornais que mais uma mulher foi vítima, na rua, no táxi, na saída do trabalho, da faculdade.
A culpa não é nossa. É do criminoso. E do poder público, que não dá conta da segurança. Mas, enquanto houver criminosos, e provavelmente sempre haverá, e enquanto houver tamanha insegurança, por favor, façamos a nossa parte, que vai muito além de retóricas feministas.
Claro que o ideal seria que tivéssemos segurança suficiente para não ficarmos vulneráveis em qualquer lugar e a qualquer hora do dia como temos ficado. Mas isso ainda não passa de um ideal. Portanto, antes de questionarmos o teor supostamente machista de algumas recomendações, questionemos por que não temos segurança.