A transformação de um superávit de R$ 5,8 bilhões em um déficit que, na melhor das hipóteses, deve alcançar R$ 51,8 bilhões em 2015 causa perplexidade até mesmo em quem desconhece os trâmites das finanças públicas do país. A discrepância não pode ser explicada apenas com base na contração da economia e na consequente queda na arrecadação, como alegam ministros da área econômica. Entre as razões reais, estão desde o descontrole das contas públicas e um histórico de gastos desenfreados, até a dificuldade de aprovação, pelo Congresso, de medidas integrantes do ajuste fiscal. Executivo e Legislativo precisam chegar a um acordo para conter o descontrole, que impõe um custo social elevado para os brasileiros.
Os dados constantes da revisão das contas são perturbadores. Depois de fechar com déficit em 2014, o setor público se viu forçado agora a admitir que o superávit primário de 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) se transformou de fato num déficit de 0,85%. E o rombo tende a se manter em 2016, o que indica a continuidade de um longo processo de ajuste, além de jogar mais para a frente qualquer possibilidade de recuperação da atividade econômica.
O país precisa se comprometer logo com providências que favoreçam o equilíbrio contábil, como reformas estruturais e erradicação de estratégias desastradas como a chamada contabilidade criativa. Os brasileiros não podem arcar indefinidamente com o custo da falta de competência política e gerencial para limitar despesas e conter a frequente tentação de elevar a carga tributária para enfrentar déficits.