O dólar atingiu e ultrapassou o máximo histórico em uma terça-feira de tensões sobre a possível derrubada de vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos que inflam o orçamento em R$ 23,5 bilhões no próximo ano e de R$ 127,8 bilhões até 2019. Seria uma pá de cal no ajuste cada vez mais difícil de sair do chão.
Mas é bom lembrar que o valor que o dólar atingiu nesta terça supera o máximo de 2002 apenas em termos nominais. Quatro reais em 2002 não são o mesmo de R$ 4 em 2015. A discussão sobre corrigir ou não o valor do dólar pela inflação já rendeu acesas discussões nas redes sociais.
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Não se trata de "desinflacionar" o dólar, cálculo complexo e que depende de variáveis além da inflação brasileira e da americana. Importante é compreender a quanto equivalia um dólar a R$ 4 em 2002 e o que representa hoje. Para usar um parâmetro aceito em todo o mundo e até entre os economistas - embora com alguma reserva -, o Índice Big Mac, da revista The Economist ajuda a relativizar os dois momentos. Em 2002, o valor no Brasil do sanduíche considerado uma referência de padrão internacional era de R$ 3,60, ou seja, quando o dólar atingiu R$ 3,99 em 10 de outubro daquele ano, dava e sobrava para comprar o lanche. Neste 2015, quando o câmbio voltou ao mesmo patamar nominal, a pesquisa da revista aponta valor médio de R$ 13,50. Se a conta fosse feita nesta terça, seriam necessários mais de US$ 3 para comprar o mesmo lanche.
E daí? Isso significa que, em 2002, o impacto da cotação recorde foi muito maior do que é hoje. Para usar uma expressão econômica popularizada pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, o "overshooting" do dólar, na época, foi muito maior do que o atual. Mas isso não necessariamente é boa notícia: na época, as tensões sobre o câmbio eram baseadas em expectativas. Hoje, estão centradas em fatos. Experiente especialista em câmbio, Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências, pondera que a cotação atual do dólar não tem relação com os chamados "fundamentos da economia" - inflação, crescimento, juro básico.
- As expectativas estão zeradas, e o mercado tem uma ponta só, a compradora - explica Blanche.