Um dos mais experientes observadores do Congresso, o ministro Eliseu Padilha diz que, nestes tempos em que lideranças não sabem com quem contar em seus partidos, "nem vaca reconhece bezerro". Aliás, nem os eleitores, porque os parlamentos se transformaram em oceanos de irresponsabilidade assolados por vagalhões de contradições demagógicas. O bem comum foi para o brejo e deu lugar à disputa insana pelo poder. Desgastar os governos, mesmo às custas do suicídio coletivo de Estados e da União, passou a ser a palavra de ordem que move grande parte dos votos nos plenários.
Seja aumento de impostos ou contenção de despesas, linhas ideológicas que votam contra em Brasília votam a favor no Rio Grande do Sul, e vice-versa, porque identificam na presidente ou no governador um adversário a ser destruído, desmoralizado, arrasado sem piedade, mesmo que o desejo de sangue político leve a economia e o povo de roldão. Coerência zero. Com saudáveis exceções, os parlamentares desfilam para as arquibancadas neste Carnaval do populismo, distantes da maioria silenciosa que alimenta o rancor em casa e volta e meia o destampa em grandes manifestações.
Em democracias maduras, o parlamento fiscaliza e obstrui os gastos públicos. Cada proposta de despesa é esquadrinhada em comissões e espremida até ser derrubada ou finalmente seguir em frente. Os eleitores desses países valorizam quem defende seus impostos com ardor e rejeitam vendedores da ilusão de que dinheiro público jorra de uma fonte mágica. Em suma, em ambientes de responsabilidade fiscal, o Executivo tenta executar novos programas e gastar mais, enquanto os parlamentares se esforçam em travar desperdícios.
Por aqui, nem uma coisa, nem outra. Só agora, depois de exaurir as burras estatais em farras de reajustes, benesses e juros de dívidas contraídas para pagar os reajustes, as benesses e mais dívidas, os governos federal e estaduais estão começando a acordar para a realidade do aqui se faz, aqui se paga. O porre de hoje é a ressaca de amanhã, mas os parlamentos ainda vivem embriagados pela noção de que perderão eleitorado se disserem não aos excessos. O resultado é que a classe política toda, com levianos e responsáveis misturados, acaba como alvo do rancor generalizado. Mas é preciso abrir o olho antes que seja tarde: os que aplaudem agora o extermínio de governos pela via da bancarrota não se levantarão depois para defender os parlamentos irresponsáveis.