Por coincidência, no mesmo dia em que era anunciada a decisão do STF pela inconstitucionalidade da contribuição de empresas em campanhas eleitorais, neste 17 de setembro, a televisão voltou a exibir o filme sobre Hannah Arendt e o julgamento de Adolf Eichmann, Hannah Arendt.
Todo homem, independentemente da complexidade de seu cotidiano, vive o dilema da conciliação entre o cumprimento do dever e sua consciência. Desde meus 40 anos de idade, tortura-me esse dilema.
A ética na política, um tema tão atual e exposto à visibilidade coletiva, nada mais é do que o confronto da verdade e da mentira. Tomo de Celso Lafer a citação do Padre Antônio Vieira: "A verdade é filha legítima da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é seu... A mentira, ou vos tira o que tendes, ou vos dá o que não tendes, ou vos rouba ou vos condena".
Se tomarmos o episódio do mensalão como um prólogo, e o atual petrolão como um desdobramento, do qual não se pode supor nem a abrangência nem o resultado final, parece estarmos vivendo o crescimento da ética sobre a corrupção, da verdade sobre a mentira.
O processo de autocorreção das instituições é animador. O Brasil de hoje é muito melhor do que o país de antes do mensalão. A lembrança de Hannah Arendt é contributiva, pois a sua tese da banalidade do mal é esclarecedora do surto desenfreado de corrupção visto nos últimos anos no Brasil.
Dizer que corrupção sempre houve e sempre haverá é a expressão clássica do "così fanno tutti, perché non io", agravada exponencialmente pelos valores econômicos e pelo alto nível dos envolvidos na administração do Estado. Foi banalizada a propina como forma de obter do gestor público a decisão que favorece, criminosamente, a atividade privada.
Ao refletirmos sobre a atuação da Polícia Federal, do Ministério Público, de setores do Judiciário e, principalmente, do Supremo, salta aos olhos a importância do princípio da independência dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que vem desde a Constituição de 1891.
Não tivemos um conjunto de homens com a estatura moral dos que fundaram os Estados Unidos, cuja organicidade está fundamentada na independência dos poderes. Mas tivemos o conselheiro Rui Barbosa, a quem devemos a adoção deste princípio como pedra basilar da nacionalidade brasileira.
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