O governador Sartori não provocou a situação de penúria e caos das finanças públicas do Rio Grande do Sul e não deve ser culpado por isto. Nossa decrepitude é antiga. Desde 31 de janeiro de 1963, fim do mandato de Leonel Brizola, deslizamos num despenhadeiro. Com os governadores nomeados da ditadura, cresceu a burocracia inútil e a pasmaceira nos dominou. Criaram dezenas de "empresas estatais" (ou "cabides de emprego") e, até para bocejar, pedia-se licença ao Estado.
O caos surgiu num processo lento. Mas...
A culpa grave de Sartori foi ter disputado a eleição de 2014 como se jogasse na mega sena. "Se der, deu. Se não der, nada perco", terá sido o raciocínio inconsciente do candidato do PMDB. Sem propostas concretas, na campanha eleitoral limitou-se a repetir "meu partido é o Rio Grande", milhões de vezes.
Na boa fé o eleitor acreditou, e a invencionice de 2014 virou mentira em 2015.
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O candidato Sartori não buscou conhecer a situação do setor público e privado do Estado. Nos dois anos anteriores à eleição, Ana Amélia percorreu o interior mais até do que o governador Tarso Genro, indagando e debatendo. Ambos tinham, pelo menos, ideias concretas (opostas ou não) sobre o Rio Grande. Sartori falava, apenas, da gestão como prefeito de Caxias, município exemplo de tenacidade há mais de 100 anos, muitos antes de que ele nascesse...
A culpa imperdoável do governador nasceu da irresponsabilidade do candidato, que nem sequer apalpou o que teria nas mãos ou o que pisaria com os pés.
Agora, a insolvência do poder público rio-grandense (entregue à manipulação de políticos demagogos) ameaça transformar-se em caos. Na cúpula dos três poderes do Estado, porém, não há qualquer medida criativa para enfrentar o monstro.
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Aumentar impostos é como dar uma punhalada para estancar a hemorragia. A insensatez do governador e seus auxiliares não pode ser imitada pela inércia demagógica dos deputados nem pela "neutralidade" do poder judicial. Além de renunciar a privilégios, cabe aos três Poderes criar saídas para sair do labirinto que leva ao caos. E se o poder judicial (esteio das instituições do Estado) desse o exemplo e juízes, procuradores e demais aquinhoados renunciassem ao absurdo "auxílio moradia de R$ 4.600 e ao "auxílio alimentar" de quase um salário mínimo? Não é este o setor melhor remunerado? É justo que, no Executivo e no Legislativo, persistam remunerações altíssimas, além do teto que manda a lei?
Crise é crise e exige renúncia àqueles nos quais o sacrifício pesará menos. Sacrificar os já sacrificados é santificar a injustiça.
Vimos pela TV, dias atrás, o absurdo de uma escola do interior que teve de suprimir papel higiênico para alunos e professores por "falta de verba". Noutras, já não servem às crianças a merenda escolar, que nasceu entre nós e, daqui, se espalhou pelo país.
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Dias atrás, os nove governadores eleitos a partir do fim da ditadura expuseram, neste jornal, suas ideias sobre a crise gaúcha. De Jair Soares (que conduziu a transição nos difíceis anos em que o poder autoritário ainda mandava em Brasília) até Sartori, todos, em maior ou menor grau, desconheceram que seus atos de ontem continuam a repercutir ainda hoje. E que, em parte, seus erros também nos governam.
Também vimos a Brigada Militar (depositária armada do espírito da República Rio-Grandense) espancar professores em plena Praça da Matriz, defronte ao Palácio Piratini, com uma ferocidade não utilizada sequer contra assaltantes que roubam idosos nas ruas. Tudo para impedir que entrassem à Assembleia Legislativa, "a casa do povo"...
E tudo isto, em setembro, mês farroupilha, quando nossas façanhas deviam servir de modelo a toda terra!
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