No controverso cenário político e econômico brasileiro, não surpreende que até a Fiesp tenha voltado suas baterias contra o ministro Joaquim Levy, que começa a se transformar num isolado Dom Quixote na luta pelo equilíbrio das contas públicas. Ontem, depois que a entidade empresarial emitiu nota assinada por seu presidente, Paulo Skaf (peemedebista próximo ao vice-presidente Michel Temer), dizendo que o ministro não está sendo sensível com o desemprego e que não vê problema em encerrar o ano com 1,5 milhão de empregos a menos, o próprio Levy deu entrevista à GloboNews e falou na "difícil arte de dizer não sozinho".
Mesmo que quaisquer decisões do governo estejam expostas a avaliações públicas - e o ministro da Fazenda não pode ser uma exceção -, não há como deixar de vê-lo como principal fiador das tentativas de correção da economia. Até porque não há nenhuma alternativa às suas ideias que possa merecer consideração no momento. Mesmo assim, os companheiros de ministério divergem seguidamente de suas posições, e até a presidente Dilma Rousseff, preocupada com a popularidade e com o apoio político, de vez em quando desautoriza o titular da Fazenda, como no caso dos novos incentivos à indústria automobilística.
Na entrevista em que defende seu projeto de recuperação da estabilidade da economia, Levy destaca que ajuste fiscal não significa apenas corte de gastos, mas utilizar os recursos com maior eficiência. Afirmou também o ministro que um orçamento justo é aquele que a sociedade suporta, como, aliás, defendem empresários e contribuintes. Falta a afinação de discursos e ações, para que Levy conquiste para si a confiança que persegue para o ambiente econômico.