Por Ricardo Gandour, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
O planeta está esquentando. Depois dos sucessivos recordes de calor em 2023, janeiro registrou a mais alta temperatura média global já verificada para o primeiro mês do ano, 0,7 graus Celsius a mais do que a média de 1991-2020, segundo o observatório Copernicus.
As mudanças climáticas afetam todas as atividades humanas. Do agronegócio ao turismo, da maior ocorrência de quedas de árvores nas ruas e de deslizamentos nas estradas e encostas à intensificação de doenças, como a dengue. O jornalismo profissional precisa cobrir com precisão esse tema transversal, que atravessa todas as editorias – e, em especial, por ser campo fértil para fake news de toda espécie.
A Wan-Ifra, associação mundial de editores, abrigou no ano passado o lançamento do ClimateXChange, programa para estimular a cobertura climática com foco especial no sudeste asiático e no Oceano Pacífico, região afetada pelo aumento do nível do mar. A Austrália fez acordo para gradativamente receber os 11 mil moradores do arquipélago Tuvalu, fadado a desaparecer sob as águas.
O jornalismo profissional precisa cobrir com precisão esse tema transversal, que atravessa todas as editorias
O jornalismo brasileiro não está mal nessa foto. Ao contrário, observadores e estudiosos internacionais nos olham com atenção e respeito. “Há uma longa e estabelecida jornada da cobertura climática no Brasil que pode ser um modelo para a imprensa americana”, disse à coluna Kyle Pope, diretor executivo e cofundador da Covering Climate Now, entidade que congrega redações do mundo todo em prol do aprimoramento dessa cobertura. Pope tem credenciais para a avaliação: foi, até o ano passado, por sete anos, o editor-chefe da Columbia Journalism Review, uma das mais tradicionais publicações que analisam o jornalismo pelo mundo. “Nos Estados Unidos, o clima ainda é algo lateral nas coberturas políticas, e isso tem que mudar ainda neste ano”, complementa, referindo-se às eleições por lá.
Por aqui, instituições e faculdades de Jornalismo intensificam iniciativas em torno do letramento climático – esse é o conceito. Caso da ESPM em São Paulo, que criou um minor (microcertificação), uma ênfase no currículo “para melhor preparar os estudantes para cobrir essas ocorrências, que só devem crescer nos próximos anos”, afirma Maria Elisabete Antonioli, coordenadora do curso de Jornalismo.
O clima deve ter, e já está tendo, a prioridade e a transversalidade que as áreas de educação e saúde passaram a ter nas redações brasileiras a partir dos anos 2000.