Por Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil
A Unesco, agência da ONU com um mandato específico para promover “o livre fluxo de ideias por palavra e imagem”, trabalha em defesa da liberdade de expressão e de informação, que tem como uma de suas âncoras a existência de uma mídia livre, plural e independente. A tecnologia digital está transformando rapidamente a circulação de informações em todo o mundo e propicia inúmeros avanços, mas também traz sérios desafios a serem enfrentados quanto à proteção da liberdade de expressão e dos direitos humanos.
Em 2023, cerca de 60% da população utilizou plataformas digitais para se expressar ou para se informar. Já em 2024, quase 2,6 milhões de pessoas irão às urnas em cerca de 81 países, e o jornalismo desempenhará um papel fundamental para garantir que, enquanto se prepara para votar, o público tenha acesso a informações precisas. Segundo uma pesquisa recente realizada por Unesco e Instituto Ipsos, 56% dos usuários de internet se mantêm informados por redes sociais, um meio muito à frente da TV (44%). No entanto, os meios de comunicação tradicionais são considerados mais confiáveis em termos de credibilidade e qualidade das notícias: no geral, 66% dos entrevistados confiam nas notícias transmitidas pela TV, em comparação com 50% que confiam nas veiculadas em redes sociais. Isso ocorre porque, também segundo a pesquisa, 68% dos usuários de internet disseram que a desinformação é mais difundida nas redes sociais.
o jornalismo desempenhará um papel fundamental para garantir que, enquanto se prepara para votar, o público tenha acesso a informações precisas
Esse sentimento prevalece em todos os países, grupos etários, origens sociais e preferências políticas. Ademais, a maioria sente que a desinformação é uma ameaça real: 85% manifestam preocupação com o impacto e a influência da desinformação em seus concidadãos. Precisamos estar atentos ao perigo real que a desinformação representa e verificar a fonte da informação antes de reproduzi-la em nossas redes sociais ou em grupos de mensagens. Por esse e outros motivos, recentemente a Unesco lançou suas “Diretrizes para a governança das plataformas digitais: salvaguardar a liberdade de expressão e o acesso à informação com uma abordagem multissetorial”. A organização está empenhada em apoiar seus Estados-membros, a sociedade civil e os principais intervenientes digitais na adoção desse texto, de modo a nos manter focados no combate ao discurso de ódio e à desinformação, preservando a liberdade de expressão e a confiabilidade da informação. Não se trata de uma contradição: ao reforçarmos o acesso à informação livre, verdadeira e confiável, reforçamos também a liberdade de pensamento e de expressão.
* Periodicamente o Conselho Editorial da RBS convida uma voz da comunidade para escrever neste espaço sobre assuntos relacionados ao jornalismo