Logo nas primeiras rodadas do Brasileirão 2016, um fato incomum chamou a atenção da editoria de Esporte de Zero Hora: Grêmio e Inter estavam muito bem colocados no G-4, o grupo dos classificados para a Libertadores (que depois virou G-6, mas isso é outra história). A situação desafiava o que os gaúchos apelidaram de gangorra da dupla Gre-Nal, um estranho fenômeno que faz com que, quando um dos times está bem, o outro está mal. A reportagem que tratou do tema foi ilustrada com uma gangorra em que as duas pontas estavam em alta, uma delas sustentando um sorridente Mosqueteiro e a outra exibindo um alegre Saci. Durou pouco. Logo em seguida, Grêmio e Inter passaram a fazer campanhas irregulares, subindo e descendo na classificação, até que se configurou o quadro atual de colorados em pânico à beira do rebaixamento e gremistas numa posição intermediária – mas pouco ligando para isso, pois estão a ponto de comemorar o título da Copa do Brasil.
Para a torcida, os momentos opostos da Dupla trouxeram de volta a velha gangorra. Para o time de Esporte de ZH, marcaram o retorno da cobrança dos azuis que acham que somos vermelhos e dos vermelhos convencidos de que somos azuis. Considerando que o olhar do torcedor é carregado de paixão, isso não nos surpreende. Ok, nem sempre as cobranças e críticas são tão gentis, mas entendemos.
Uma das táticas que adotamos para procurar deixar claro que nossa cobertura futebolística não tem cor é tratar grandes momentos dos dois clubes com a mesma solenidade. Em 2013, quando o Grêmio festejou 30 anos da conquista do Mundial de Clubes, produzimos um rico conteúdo digital e um caderno em forma de mangá que recontou a façanha de Renato & Cia contra o Hamburgo. Daqui a alguns dias, quando o Inter comemorar os 10 anos do seu título mundial, a odisseia do eterno Fernandão e seus liderados contra o Barcelona será lembrada em ZH por... um rico conteúdo digital e um caderno em forma de mangá. O único limitador nesta simetria de tratamento são os fatos: não temos como omitir em reportagens e análises se um time vai muito bem ou muito mal.
O Rio Grande do Sul vive dias de gangorra como há muito não se viam. Desnecessário entrar em detalhes da euforia gremista e do inferno colorado. E também nem precisa detalhar que é nestes momentos que mais somos alvo dos que nos rotulam de azuis ou vermelhos. Para todos os que nos honram com sua audiência, vai aqui o reforço do compromisso de que Zero Hora torce pelo Mosqueteiro e o Saci no alto da gangorra, colecionando vitórias e títulos. No futebol, vale a mesma regra das finanças públicas, dos rankings da educação ou das estatísticas da violência: damos as boas notícias com satisfação e as más com a responsabilidade de que nosso papel é noticiar o que precisa ser noticiado.