Fiel ao perfil adotado ao longo da campanha, Donald Trump deu início ao mandato com um discurso baseado em ideais nacionalistas e pregando medidas protecionistas como forma de recuperação de empregos e investimentos perdidos nos últimos anos. Ao invocar a frase que melhor resume o primeiro pronunciamento, “a América em primeiro lugar”, ontem no Capitólio, o novo presidente deu início à Era Trump à frente da Casa Branca.
Na manhã gelada de Washington, pontualmente ao meio-dia, Trump estendeu a mão sobre a bíblia e prestou juramento, oficializando a posse. Sentados na plateia de autoridades, estavam as famílias Trump e Obama, o ex-presidente Bill Clinton e a mulher, Hillary, candidata derrotada na eleição, além de centenas de congressistas e convidados de honra. Discreta, ela pouco aplaudiu. Obama, da mesma forma, manteve o semblante sério durante os 17 minutos do discurso de seu sucessor. Trump não antecipou medidas práticas, mas expôs as linhas de atuação ao prometer que “o poder voltará às mãos do povo”.
"A partir de hoje, vamos tirar o poder das mãos do poder em Washington e transferi-lo para vocês", afirmou, seguido de aplausos.
A área do National Mall, a esplanada que se estende por mais de dois quilômetros a partir do Capitólio, ficou tomada de pessoas e começou a ser ocupada logo cedo, às 6h. A polícia impôs um esquema de segurança que submeteu cada um dos participantes a revista corporal e averiguação de bolsas e mochilas.
Carregando flâmulas dos Estados Unidos, cartazes e vestindo bonés com o slogan “Make America Great Again”, apoiadores republicanos vieram de várias partes do país. As irmãs Margareth e Meredith Stevenson perderam o emprego há 5 anos, quando a empresa em que elas trabalhavam fechou em Wisconsin.
"Ele é a única esperança de retomada dos empregos, da vida e condição que nós sempre tivemos", disse Margareth, no meio de uma concentração em frente ao Capitólio.
Para este público, Donald Trump esbanjou otimismo e dedicou a parte de seu discurso para invocar o que existe de mais profundo em termos de patriotismo americano, afirmando que o dia 20 de janeiro será lembrado como o dia em que a nação retomou o controle do país.
"Por muitas décadas, nós ajudamos a enriquecer a indústria estrangeria em detrimento da indústria local", para, em seguida, completar: "Mas isso agora é passado".
Os quase três meses que se passaram desde a eleição até a posse não fizeram Trump mudar ideia quanto à fronteira.
"Vamos trazer de volta nossas fronteiras, vamos trazer de volta nossa riqueza, vamos trazer de volta nossos sonhos. Um novo orgulho nacional vai nos colocar juntos, ampliar nossa visão e curar as nossas divisões".
Provocativo, Trump afirmou que irá acabar com o terrorismo islâmico, termo que sempre foi evitado pelo agora ex-presidente Barack Obama. A cada pausa, palmas e gritos de apoio no Capitólio, que ecoavam pelas mais de 350 caixas de som espalhadas pelo National Mall.
Uma chuva fina caiu sobre Washington enquanto o novo presidente falava. Muitos se protegiam com capas e guarda-chuvas. Bem lado da tribuna, Obama observava sem se importar com a garoa. Mantendo a tradição, Trump e a primeira dama conduziram o casal Obama até o helicóptero, que partiu dos fundos do Congresso.
O esforço policial de manter grupos de manifestantes longe no trajeto do desfile presidencial permitiu a passagem tranquilo de Trump e a família pela Pensilvânia. O clima festivo possibilitou até uma quebra de protocolo em frente ao Trump International Hotel. O novo presidente deixou o carro oficial e chegou a poucos metros do público, num rápido momento de celebração.