O papa Francisco celebrou, neste domingo (15), uma grande missa na Córsega, onde pediu a paz em "todo o Oriente Médio" e para "o povo ucraniano e o povo russo", durante a primeira visita de um sumo pontífice a esta ilha francesa do Mediterrâneo.
Uma semana após a pomposa reabertura da catedral de Notre-Dame de Paris, evento ao qual ele preferiu não comparecer, o pontífice argentino chegou a Ajaccio para uma visita de algumas horas.
Francisco, em cadeira de rodas e ainda com um hematoma no rosto devido a uma queda ao sair da cama dias antes, proferiu sua homilia diante de uma multidão de 9 mil fiéis, além de bispos e membros de confrarias.
Uma fonte de segurança informou que cerca de 17.400 pessoas acompanharam a missa presencialmente e por meio de telões gigantes instalados pela cidade.
Segundo o Vaticano, 80% dos 350 mil habitantes da Córsega são católicos. Muitos se levantaram cedo para ver o papa. Karine Nicolaï, de 50 anos, acordou às 4h da manhã para pegar um trem. "É fantástico, de verdade, ele nunca veio à Córsega! [...] É histórico!", disse à AFPTV.
Em um discurso na catedral antes de celebrar a missa, Francisco fez um apelo pela paz.
"Paz para a Palestina, para Israel, para o Líbano, para a Síria, para todo o Oriente Médio", afirmou, incluindo também os ucranianos e os russos. "A guerra é sempre uma derrota", insistiu o pontífice.
- Uma laicidade dinâmica -
Francisco, que está prestes a completar 88 anos, também participou da cerimônia de encerramento do congresso "A religiosidade popular no Mediterrâneo".
Ele defendeu "um conceito de laicidade que não seja estático e rígido, mas evolutivo e dinâmico".
Uma laicidade "capaz de se adaptar a situações diversas ou inesperadas, promovendo a colaboração constante entre as autoridades civis e eclesiásticas para o bem de toda a coletividade, mantendo cada uma nos limites de suas próprias competências e espaços", declarou diante de religiosos e teólogos.
O papa também alertou sobre o "risco" de "a piedade popular ser utilizada ou instrumentalizada por grupos que pretendem fortalecer sua própria identidade de forma polêmica, alimentando particularismos, antagonismos e posturas ou atitudes excludentes". Esse recado poderia ser direcionado aos nacionalistas corsos.
Na Córsega, um novo movimento nacionalista de extrema direita, a Mossa Palatina, defende "a supremacia do catolicismo" e afirma que "a Córsega nunca será Lampedusa", uma referência à ilha italiana que recebe muitos migrantes que cruzam o Mediterrâneo.
Esse discurso se opõe totalmente à visão do papa, que sempre defendeu a acolhida de migrantes.
- Encontro com Macron -
Antes de embarcar de volta ao Vaticano, Francisco se encontrou com o presidente francês, Emmanuel Macron, no aeroporto. "É uma grande honra para a cidade de Ajaccio, para a Córsega e para a França recebê-lo", declarou o chefe de Estado.
Macron presenteou o pontífice com o livro oficial da restauração da catedral de Notre-Dame de Paris.
A visita de Francisco, a primeira de um papa à Córsega, ocorreu uma semana após a reabertura da catedral de Notre-Dame de Paris, cinco anos depois de um incêndio devastador.
Francisco declinou o convite oficial de Macron para participar dessas celebrações.
Diante da surpresa causada por sua viagem à Córsega, vários bispos franceses destacaram o apego do papa às "periferias" da Igreja e as limitações de sua agenda em Roma.
O pontífice foi convidado à Córsega pelo cardeal franco-espanhol François-Xavier Bustillo, bispo de Ajaccio.
"O papa em breve completará 88 anos e tem problemas de mobilidade, mas a mente e o espírito estão intactos", afirmou Bustillo recentemente à AFP sobre a visita.
"E, numa época em que há uma tendência ao afastamento, o papa entrega-se até o fim. É um belo modelo de vida", acrescentou.
Desde o início de seu pontificado, em 2013, o chefe da Igreja Católica realizou duas visitas ao território francês: uma a Estrasburgo em 2014 e outra a Marselha em setembro de 2023, mas nunca uma visita de Estado.
* AFP