A atriz espanhola Marisa Paredes, com uma carreira longa e aclamada, que incluiu vários filmes com o diretor Pedro Almodóvar, morreu aos 78 anos, informou a Academia Espanhola de Cinema nesta terça-feira (17).
"O cinema espanhol fica sem uma de suas atrizes mais icônicas, Marisa Paredes, que deixa para trás uma longa carreira na qual o público pôde assisti-la mais de 75 vezes na tela grande", afirmou a Academia Espanhola de Cinema em sua conta na rede social X.
Com uma trajetória prolífica construída desde sua estreia, aos 14 anos, Paredes foi uma das grandes atrizes da Espanha, onde chegou a presidir a Academia de Cinema entre 2000 e 2003.
Sua carreira alcançou uma nova dimensão após sua primeira colaboração, em 1983, com o então diretor promissor Pedro Almodóvar, com quem estabeleceria uma grande parceria a partir de sua participação em "Maus Hábitos".
Os dois também trabalharam juntos em "De Salto Alto", "A Flor do Meu Segredo", "Tudo Sobre Minha Mãe", "Fale com Ela" e "A Pele que Habito".
Em declarações à televisão pública RTVE, Almodóvar reagiu dizendo estar vivendo "um sonho ruim".
"É como se acordasse de um sonho ruim, mas ainda segue sendo um sonho ruim. Noto que tenho dificuldade para assimilar que Marisa morreu", afirmou o diretor de 75 anos.
"Minha querida Marisa... Você nos deixa cedo demais. Te amo", escreveu no Instagram Penélope Cruz, outra 'chica' Almodóvar.
Contemplada, entre outros, com o Prêmio Nacional de Cinematografia, a Medalha de Ouro ao Mérito nas Belas Artes e o Goya honorário, Paredes também participou de produções internacionais como "A Vida é Bela", do italiano Roberto Benigni, ou "A espinha do diabo", do mexicano Guillermo del Toro.
Seu colega e compatriota Antonio Banderas chorou a perda de "uma grande dama da interpretação".
"Querida amiga, você nos deixou cedo demais", escreveu Banderas na rede X.
O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, se disse "desolado" e saudou "uma das atrizes mais importantes que nosso país já teve", escreveu no X.
"Sua presença no cinema e no teatro e seu compromisso com a democracia serão um exemplo", acrescentou Sánchez sobre a implicação da atriz em causas progressistas.
- "Confiança absoluta" -
Nascida em 1946 na Madri pós-guerra civil, a quarta filha de uma família humilde conseguiu convencer seus pais a deixá-la ser atriz depois de passar muitas horas diante dos teatros para observar os atores e esperar por uma oportunidade.
"Minha vocação nasce comigo (...), mas teve muito a ver com o bairro onde eu morava", explicou em uma entrevista na Academia Espanhola de Cinema, em referência à infância na praça de Santa Ana, onde fica o Teatro Espanhol.
Desde então, ela começou a forjar uma carreira no palco, no cinema e na TV, que ganharia amplitude quando Almodóvar a chamou para atuar em "Maus Hábitos".
"Obrigado, Pedro Almodóvar, minha vida, minha carreira e tudo ganhou uma dimensão extraordinária", reiterou há alguns meses em uma entrevista para a televisão espanhola.
- Engajada -
A carreira da atriz não se limitou, no entanto, à parceria com Almodóvar. Ela também trabalhou com diretores como Agustí Villaronga e Fernando Trueba, além do mexicano Arturo Ripstein.
"Sempre me deram personagens especiais", explicou Paredes ao jornal El País, em fevereiro. "Tive a sorte de que, como não tenho aparência espanhola (...), quando a televisão era culta e passava teatro, eu fazia todos os dramas de Tchekov, de Dostoiévski, de Ibsen. Era a alma russa. O grande drama", acrescentou.
De seu casamento com o cineasta Antonio Isasi-Isasmendi nasceu sua filha, a também atriz María Isasi.
Além de sua prolífica carreira artística, Paredes nunca escondeu sua ideologia progressista e feminista.
"Isso tem a ver com o sentimento de classe", explicou em conversa com a Academia de Cinema espanhola. "Era isso de dizer para minha mãe, 'Por que não tenho a [boneca] Mariquita Pérez?' Porque somos pobres. 'Por que não posso estudar?' Porque somos pobres (...) 'E por que somos pobres?' Porque isso se herda", lembrou.
* AFP