As forças de segurança e vários moradores de Porto Príncipe mataram, nesta terça-feira (19), 28 membros de gangues, em meio a uma ofensiva de grupos criminosos contra diferentes bairros da capital do Haiti, informaram as autoridades à AFP.
Horas depois, um fotógrafo da AFP testemunhou moradores queimando os corpos dos supostos criminosos, empilhando pneus sobre os cadáveres e ateando fogo.
Durante a madrugada, a polícia haitiana parou um caminhão e um micro-ônibus que transportavam membros de gangues no centro de Porto Príncipe e em Petion-Ville, área abastada nos arredores da cidade, informou à AFP Lionel Lazarre, porta-voz adjunto da Polícia Nacional Haitiana (PNH).
Nos dois encontros, a polícia abriu fogo contra membros das gangues, matando dez deles e obrigando os demais a fugir, acrescentou a fonte.
Agentes e grupos de autodefesa civil perseguiram os foragidos e os mataram.
Desde a semana passada, Porto Príncipe enfrenta um repique da violência por parte da "Viv Ansanm" (Viver Juntos), aliança da gangues formada em fevereiro, que conseguiu depor o então primeiro-ministro Ariel Henry.
Nas últimas horas, esta coalizão lançou uma ofensiva contra Petion-Ville e outros bairros da região metropolitana de Porto Príncipe, como Bourdon e Canapé Vert, após um chamado feito pelas redes sociais por um de seus líderes, Jimmy Chérizier, conhecido como "Barbecue".
"Exigimos a renúncia do Conselho Presidencial de Transição (CPT). A coalizão 'Viv Ansanm' utilizará todos os seus meios para garantir a saída do CPT", declarou Chérizier na segunda-feira à noite.
Esta não é a primeira vez que grupos de civis matam membros de gangues. No ano passado, moradores apedrejaram e queimaram vivas cerca de dez pessoas acusadas de fazer parte desses grupos criminosos.
As gangues haitianas, bem armadas e organizadas, controlam 80% de Porto Príncipe, assim como as principais estradas do país.
Há meses, os criminosos impõem um regime de terror contra a população civil, com assassinatos, estupros e sequestros, diante da impotência da polícia.
O envio de uma força internacional apoiada pela ONU e liderada pelo Quênia não foi suficiente para conter a violência.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, "apoia firmemente os esforços da Polícia Nacional do Haiti" e da missão internacional para combater a "crescente violência" em Porto Príncipe, declarou nesta terça-feira em um comunicado seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
- Crise política -
Os ataques das gangues coincidem com uma crise política que se seguiu à destituição do primeiro-ministro Garry Conille pelo Conselho de Transição.
Seu substituto à frente do governo, o empresário Alix Didier Fils-Aimé, foi empossado na semana passada no cargo e prometeu restabelecer a segurança e organizar as primeiras eleições no Haiti desde 2016.
O Haiti, o país mais pobre das Américas, sofre há tempos com a violência de quadrilhas criminosas, a pobreza e a instabilidade política.
Na capital, as ruas estão quase desertas nesta terça-feira depois que a Polícia e os moradores ergueram barricadas em vários bairros para deter a ofensiva das gangues.
Segundo um relatório da ONU divulgado no mês passado, mais de 1.200 pessoas morreram no Haiti entre julho e setembro.
De acordo com o estudo, 47% das mortes são atribuídas a gangues, mas 45% foram resultado de operações policiais, incluindo 106 "execuções" extrajudiciais. Os outros 8% das mortes foram causados por civis, incluindo grupos de autodefesa como o movimento Bwa Kale.
Mais de 20 mil pessoas abandonaram suas casas na capital em apenas quatro dias na semana passada, segundo um comunicado publicado no sábado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Porto Príncipe também está isolada do resto do mundo após a decisão do órgão regulador da avião dos EUA (FAA) de proibir voos comerciais de companhais aéreas americanas para o Haiti depois que três aeronaves foram alvos de tiros na capital.
* AFP