O partido opositor venezuelano Vontade Popular (VP) denunciou nesta sexta-feira (25) o "assassinato" de um dos seus militantes, que estava sob custódia policial. O caso foi classificado por uma organização de defesa dos direitos humanos como "possível execução extrajudicial", enquanto a polícia afirmou que ele foi vítima de um acidente de trânsito.
"O Vontade Popular denuncia, de forma responsável e com profundo pesar, ao país e à comunidade internacional, o assassinato de Edwin Santos pelas mãos do regime de Maduro", informou em comunicado a legenda, uma das principais da coalizão opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD), fundada pelo dirigente exilado Leopoldo López.
"Ele foi assassinado após ter sido sequestrado por membros dos órgãos de segurança do Estado", acrescenta o comunicado. Segundo o VP, Santos estava detido na sede da Direção de Contrainteligência Militar (DGCIM) na localidade de Guasdualito (estado de Apure).
A líder opositora María Corina Machado exigiu "que se aplique a justiça internacional perante os crimes contra a humanidade que aumentam na Venezuela. Edwin foi sequestrado na última quarta-feira, quando ia para casa, segundo testemunhas, por agentes de segurança do regime", disse María Corina, que vive na clandestinidade.
A prisão não foi confirmada por autoridades, enquanto a organização reportava um "desaparecimento forçado" desde 23 de outubro. A ONG de defesa dos direitos humanos Provea alertou que se trata de "uma possível execução extrajudicial" e exigiu uma "investigação urgente".
Segundo o VP, o corpo foi encontrado em uma ponte. "Nos últimos meses, ele se manteve lutando por sua comunidade, denunciando a situação de colapso da ponte que liga Apure a Táchira. Foi nessa mesma ponte que ele foi encontrado sem vida na manhã de hoje."
"Sua mulher já reconheceu o corpo, mas não temos detalhes. Extraoficialmente, informaram que há cinco [marcas de] disparos, embora não tenhamos conseguido confirmá-lo", disse à AFP a dirigente Adriana Pichardo.
Leopoldo López publicou na rede social X uma foto do corpo no meio do mato. "Foi torturado até ser assassinado", afirmou. "Não descansaremos até que haja JUSTIÇA."
O comissário Douglas Rico, chefe do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (Cicpc), afirmou que Santos foi vítima de "um acidente de trânsito, após a motocicleta que dirigia colidir com uma árvore. Negamos todas as notícias falsas divulgadas por alguns veículos de comunicação e porta-vozes, que tentam manipular e indicar que o Governo Nacional possa estar por trás desse acontecimento infeliz."
Edmundo González Urrutia, adversário de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, que denuncia uma fraude no pleito, pediu uma investigação sobre a morte do opositor. "Estou muito atento à investigação desse caso (...) A Venezuela quer e precisa da verdade", declarou nas redes sociais o ex-candidato à Presidência, exilado na Espanha.
Santos foi membro do comando de campanha de González Urrutia e María Corina, principal rosto das manifestações opositoras.
Em 2018, o partido opositor Primeiro Justiça (PJ) denunciou o assassinato de seu militante Fernando Albán, também sob custódia.
Após as eleições presidenciais, nas quais Maduro foi proclamado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para um terceiro mandato (2025-2031) em meio a denúncias de fraude, a oposição e especialistas das Nações Unidas denunciaram uma "onda de perseguição" contra ativistas.
Cerca de 160 dirigentes e membros de partidos políticos estão detidos, acusados de planejarem derrubar Maduro, e 22 deles pertencem ao Vontade Popular, segundo a oposição.
* AFP