A sul-coreana Han Kang, autora de romances e poemas, ganhou nesta quinta-feira(10) o Prêmio Nobel de Literatura por "sua intensa prosa poética, que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana", anunciou a academia sueca.
Han Kang, de 53 anos, é a primeira asiática a receber o prestigioso prêmio de Literatura. Paralelamente à escrita, a autora dedicou-se à arte e à música, o que se reflete em toda a sua obra literária.
"O trabalho de Han Kang é caracterizado por esta dupla exposição da dor, uma correspondência entre tormento mental e tormento físico, em estreita relação com o pensamento oriental", afirmou a academia sueca.
Seu prêmio chegou às primeiras páginas da imprensa sul-coreana, que saudou essa conquista "histórica".
Dominado por escritores masculinos da cultura ocidental, o Prêmio Nobel da Literatura deste ano premia uma caneta feminina - do total de 121 vencedores, apenas 18 foram mulheres - e procedente de uma região sub-representada.
Han estava terminando de jantar com o filho em sua casa em Seul quando recebeu a notícia por telefone, contou ela em entrevista à Fundação Nobel.
"Estou muito surpresa e honrada", disse a escritora, que para conhecer seu trabalho recomendou a leitura de seu último romance 'Dizer adeus é impossível' (2021).
"Cresci com a literatura coreana, da qual me sinto muito próxima. Espero então que esta seja uma boa notícia para os leitores desta literatura e para os meus amigos, escritores e outras pessoas", acrescentou.
A vencedora disse que celebrará o prêmio "tranquilamente", tomando um chá com o filho.
- Exploração erótica -
Han Kang ficou internacionalmente conhecida com seu romance "A Vegetariana" (2007), que lhe valeu o Man Booker Prize em 2016, um dos principais prêmios literários de língua inglesa.
Escrita em três partes, a obra descreve as violentas consequências da recusa de sua protagonista, Yeong-hye, em comer carne, o que provoca a rejeição brutal de seu entorno.
Neste romance, a autora conta como Yeong-hye será explorada "eroticamente" pelo cunhado, que desenvolve uma obsessão pelo seu "corpo passivo", destaca a academia.
O leitor acompanha como a protagonista afunda progressivamente em uma psicose que a levará a uma internação psiquiátrica.
"Há uma continuidade notável nos temas abordados, mas ao mesmo tempo uma enorme variação estilística que faz de cada livro um novo aspecto ou uma nova expressão desses temas centrais", analisou Anna-Karina Palm, membro da Academia sueca.
Nascida em 27 de novembro de 1970 em Gwanju, na Coreia do Sul, Han Kang chegou a Seul quando tinha nove anos. Seu pai, Han Sung-won, era escritor e seu irmão Han Dong-rim também escreve.
Ambos foram incentivados a desenvolver o gosto pelas artes e pela música, além das letras.
Han Kang decidiu estudar literatura e começou a publicar poemas em 1993, que lhe renderam um prêmio do jornal Seoul Shinmun em 1994.
- "Lista" -
Han Kang também é uma mulher engajada. A autora sul-coreana esteve em uma "lista" de quase 10 mil personalidades da cultura sul-coreana acusadas por críticas à presidente Park Geun-hye, no poder entre 2013 e 2017.
Várias figuras próximas do poder foram acusadas de quererem deixar estes artistas sem ajuda pública ou financiamento privado, além de colocá-los sob vigilância.
Outra de suas obras é "Lições de grego" (2017), que conta a história de uma mulher que perdeu a voz e sua única esperança de recuperá-la é aprendendo grego.
Outro sul-coreano que recebeu o Prêmio Nobel (da Paz) foi o ex-presidente (1998 a 2003) Kim Dae-Jung em 2000 por "seu trabalho pela paz e reconciliação com a Coreia do Norte".
No ano passado, o prestigioso Prêmio de Literatura foi concedido ao dramaturgo norueguês Jon Fosse.
* AFP