Um ano depois de ser sequestrada no kibutz de Be'eri, em Israel, a dor do cativeiro ressoa na voz de Emily Hand, uma menina de 10 anos que convive com o trauma de ter sido mantida refém pelo movimento palestino Hamas.
"Faz um ano que não consigo respirar, nem por um minuto. Mas dizem que uma tempestade não te atinge duas vezes, já perdi o medo no campo atrás da minha casa", conta Hand.
A menina foi uma das 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023 por comandos do Hamas no sul de Israel.
Após 50 dias de cativeiro em Gaza, ela foi libertada durante uma trégua em novembro junto com sua amiga Hila Rotem, de 13 anos, e a mãe desta.
Mas sua libertação foi o início de um longo caminho para a recuperação, uma luta diária sofrida pelos mais de 100 reféns que foram parte de uma troca que libertou 240 palestinos presos em Israel.
Meses depois, 97 reféns permanecem em Gaza, dos quais 33 foram declarados mortos pelo Exército israelense.
Hand perdeu a mãe aos dois anos e sua madrasta foi morta no ataque do Hamas ao kibutz de Be'eri.
Ela e Rotem compartilharam o cativeiro e agora, junto com outras crianças, participam de um projeto com o popular cantor e compositor israelense Keren Peles às vésperas do aniversário de um ano do massacre de 7 de outubro.
Na casa do artista em Hofit, no centro de Israel, cerca de 10 adolescentes e crianças que foram diretamente atingidos pelo ataque do Hamas reúnem-se para cantar.
- 'Insustentável' -
O mais velho dos participantes é Yuval Sharabi, de 18 anos, cujo pai foi feito refém e morreu em Gaza. Seu tio ainda está em cativeiro e acredita-se que esteja vivo.
Para ele, os versos da música composta por Peles, "No campo atrás da minha casa", abrem uma ferida.
"É como se fosse a minha história, como se ela tivesse sido escrita para mim", diz.
Sharabi conta que a música fala da incerteza, da dor e de tudo relacionado ao 7 de outubro.
"Essa espera é insustentável, temos que libertar todos os reféns, ainda estou em estado de choque desde 7 de outubro, quero que tragam meu pai e meu tio de volta", afirma.
Peles diz que a música permitiu dar voz àqueles que perderam entes queridos e dar esperança às famílias dos reféns. "Eles têm que voltar. Esta situação é insustentável", declarou.
O coro inclui o filho de um policial que morreu em Sderot, duas filhas de um morador do kibutz de Kisufim que morreu defendendo sua comunidade e uma prima de Shiri Bibas, mulher de origem argentina que foi sequestrada com seus filhos de nove meses e quatro anos.
Unidas pela tragédia, Hand e Rotem agora conseguem cantar, dançar e até rir. Durante a gravação da reportagem, a dupla e outros dois adolescentes filmaram um vídeo para publicar no TikTok.
Mas o pior ataque da história de Israel continua a pesar sobre suas vidas.
Em 7 de outubro de 2023, comandos armados do Hamas cruzaram a fronteira de Gaza em um ataque brutal que deixou 1.205 mortos em Israel, a maioria civis, de acordo com uma contagem baseada em números oficiais israelenses.
A ofensiva de retaliação de Israel em Gaza causou a morte de pelo menos 41.802 pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.
* AFP