As hostilidades no Líbano ameaçam "desestabilizar ainda mais" a economia do país, já debilitada por anos de crise, advertiu, nesta quarta-feira (23), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que prevê uma queda de 9,2% no PIB em 2024 se a guerra se prolongar.
Após um ano de trocas de disparos na fronteira, Israel e o grupo libanês pró-iraniano Hezbollah passaram a travar uma guerra aberta no Líbano, com o exército israelense lançando uma ofensiva terrestre contra o sul do território do país vizinho no final de setembro.
"É provável que a escala do desdobramento militar, o contexto geopolítico, o impacto humanitário e as repercussões econômicas em 2024 sejam muito maiores do que em 2006, quando começou a guerra de julho-agosto entre Israel e Hezbollah", aponta o PNUD em sua primeira avaliação rápida do impacto econômico da guerra em curso no Líbano.
Principalmente porque a atual escalada "chega em um momento em que o Líbano já está debilitado por anos de crise política, econômica e social", observa.
O PIB encolheu 28% entre 2018 e 2021 e a libra libanesa perdeu 98% de seu valor, o que provocou uma inflação galopante, segundo o relatório.
Entre 2022 e 2023, a situação econômica parecia ter se estabilizado e, antes da guerra, a agência da ONU esperava um crescimento de 3,6% da economia libanesa em 2024, explicou à AFP Kawthar Dara, economista do escritório do PNUD no Líbano.
Se o conflito se prolongar até o final do ano, "a economia encolherá 9,2%" em 2024, acrescenta.
O impacto "não estará muito longe" do da guerra de 2006, estimado entre 2,5 bilhões e 3,6 bilhões de dólares (8 a 10% do PIB daquela época), ressalta o relatório.
O conflito pode ter um impacto "profundo e considerável" no PIB e no desemprego, insiste o PNUD.
A atividade econômica está paralisada. Fábricas, estradas, redes de irrigação agrícola e redes elétricas estão sendo destruídas, aponta Dara.
Sem um apoio internacional significativo, as perspectivas econômicas "continuam sendo sombrias", com uma previsão de queda do PIB de 2,28% em 2025 e de 2,43% em 2026, de acordo com o relatório.
Dado a deterioração das condições de vida da população, "é imperativo que a comunidade internacional mobilize imediatamente a ajuda humanitária". Mas também, "em paralelo", é necessária a ajuda ao desenvolvimento "para apoiar a estabilidade econômica, social e institucional, em áreas como água, alimentação, saúde, saneamento e infraestrutura", insiste o PNUD.
Na quinta-feira, será realizada em Paris uma conferência internacional sobre o Líbano. A ONU pede 400 milhões de dólares (R$ 2,3 bilhões) para os deslocados, segundo a presidência francesa.
* AFP